Alimentar uma esperança criativa
Ao começar o novo ano, a primeira atitude que devemos alimentar é a da gratidão: dar graças a Deus pelo dom do tempo, que é o dom da vida, o dom fundamental.
O tempo é graça e, em nossa vida, tudo depende do uso que dele fazemos: podemos usá-lo como se fosse um peso morto ou uma realidade viva (carregado de possibilidades, recursos, criatividades, aberto ao novo, tempo inspirado…).
O começo do ano nos convida a pensar sobre nossa forma de ativar este “grande tesouro” que é o tempo; Deus nos concede um novo ano para que multipliquemos a vida, enriquecendo-a com sentido, qualidade e calor humano; é uma nova oportunidade que Ele nos concede para crescer e ajudar os outros a crescer, para alcançar uma experiência nova da vida, de encontro com Ele, com os outros, conosco mesmos.
Para muitos pode causar estranheza que a Igreja faça coincidir o primeiro dia do novo ano civil com a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. E, no entanto, é significativo que a Igreja, depois de celebrar solenemente o nascimento do Salvador, nos motiva a começar o novo ano sob a proteção maternal de Maria, Mãe do Salvador e Mãe nossa. É bom que, diante do Novo Tempo que se inicia, elevemos nossos olhos para Maria. Ela nos acompanhará ao longo dos dias com cuidado e ternura de mãe. Ela inspirará nossa fé e nossa esperança.
Também, no dia 1º de janeiro, celebramos o Dia Mundial da Paz. Talvez seja uma das carências que mais afeta o ser humano hoje, porque a ausência de paz é a prova palpável de uma tremenda falta de humanidade em todos os níveis.
É difícil entender o que significa paz quando nos vemos cercados de violências e conflitos; não podemos experimentar a paz alimentando uma “cultura da indiferença” e da suspeita. O medo daquele que pensa, crê, sente e ama de maneira diferente de nós aumenta as distâncias, cria muros e bolhas de proteção que dão uma falsa sensação de segurança e paz. Nunca se investiu tanto em segurança e, no entanto, a cultura da paz está cada vez mais esvaziada.
O primeiro passo em busca da paz deve ser dado por cada um de nós, caminhando em direção ao nosso próprio interior. Se não conseguimos uma harmonia interior, se não descobrirmos nosso verdadeiro ser e o assumimos como a realidade fundamental em nós, não teremos paz nem a poderemos levar aos outros. É preciso, como os pastores, entrar na gruta interior para encontrar Aquele que é o Príncipe da Paz; aproximar-nos dessa Criança significa ativar todos os recursos pacíficos que carregamos dentro de nós.
A paz relaciona-se à plenitude, enquanto a violência está vinculada à falta, à carência. Paz reflete harmonia consigo, boas relações com os outros, aliança com Deus, enquanto a violência infecciona os relacionamentos, contamina a convivência, quebra as relações, exclui os mais fracos.
Este é o desafio diante do Novo Ano que se inicia: devemos primar por construir “ambientes de paz”: paz que vem do alto, que brota do interior e aquece nossos corações, plenifica nossas relações e se expande, tal como o perfume, em todas as direções. Nosso coração humano foi feito para a paz e anseia pela convivência harmoniosa com Deus, com a natureza, com os nossos semelhantes.
Tenha um ano muito abençoado!
Padre Lino Baggio, SAC
O autor, colaborador desta Revista, é padre palotino em Coronel Vivida (PR)
lino_baggio@terra.com.br