Quando a criança brinca
Neste artigo abordo a importância do brincar. Não é nenhuma novidade tratar desse assunto, mas é importante lembrar sempre da importância do brincar, tendo em vista que muitas crianças estão deixando isso de lado. Por que estão deixando de brincar? Muitas crianças estão trocando o brinquedo e as brincadeiras pelas telinhas. Porém, o uso excessivo de telinhas corta a capacidade criativa e o aprendizado de normas e regras, bem como interfere no desempenho escolar, nas relações interpessoais e na socialização das crianças. Também produz ansiedade, angústia e depressão.
O excesso de telinhas produz vazios internos, um vácuo afetivo e emocional, porque a criança volta-se somente para o exterior e faz um corte com seu mundo interno, onde estão as sensações, sentimentos e afetos.
Ao fazer esse corte a agressividade também poderá se fortalecer e ser jogada para fora de forma bruta ao invés de ser elaborada pelo pensamento
E os smartphones?
O psicólogo americano Jonathan Haidt escreveu: “Tire esses smartphones das mãos de seus filhos, se puder”. Segue salientando que é preciso protegê-los das doenças mentais, dos pesadelos e dos suicídios de adolescentes. Banir as telinhas para que crianças e adolescentes voltem a brincar, a crescer, a ter uma vida social como seres humanos. Principalmente, as crianças são vítimas de extorsão de adultos, além do enfraquecimento familiar. As crianças precisam estar ao ar livre, brincar, se sujar, jogar-se no chão e não passar horas diante de uma tela.
Brincar é uma necessidade biológica que ajuda a desenvolver o cérebro; brincar leva as crianças a se movimentarem de forma independente, a serem criativas, resolverem problemas, inventarem e se arriscarem. Brincar põe as crianças em contato com o mundo real. Brincar leva as crianças a entenderem que existem regras e normas, uma vez que o ato de brincar e jogar, também possui regras e normas.
Quando a criança brinca desenvolve suas capacidades mentais o que gera saúde mental e projeta seu futuro, pois estimula o cérebro. Brincar faz a criança ter senso de comunidade, de socialização e, assim, faz com que ela floresça em seus relacionamentos saudáveis com a família e com os demais. Brincar acalma, pois é o momento da criança em que ela poderá usar aquele tempo como desejar, da forma que quiser. É um tempo seu, sem ter que agir rápido, julgar rápido para não ser julgada. Isso leva à degradação.
O ato de brincar acalma os corações infantis (também de adolescentes e adultos) e possibilita ver a beleza do mundo que os rodeia. Por isso, em todas as idades não se pode perder o lúdico, o brincar, jogar, lazer etc. Por isso que o psicólogo citado sugere que: “nada de smartphones antes dos 14 anos, apenas um telefone para fazer e receber ligações. Nada de mídia social até 16 anos”. Que este tempo seja para brincar, jogar, interagir com a família e outras pessoas.
Contato com a terra
Brincar traz as crianças de volta à terra, ao mundo. Isso permite que todos vivam aventuras maiores, expandam suas relações com as pessoas e com o mundo. O “mundo” do smartphone é diminuto e pobre. Não usar telinhas possibilita vivenciar fortes emoções, se deslumbrar com o mundo real e a vida será muito mais prazerosa. Além disso, brincar desperta confiança, pois se permite errar também, perder e desenvolver as próprias competências a partir do envolvimento com o mundo real ao sair da zona de conforto.
Jogar e brincar é para todas as idades, apesar de ter me detido com as crianças. São meios para se arriscar, correr algum risco e saber lidar com o imprevisível. Com isso o mundo se ampliará. As crianças serão menos propensas a problemas de saúde tanto físicos quanto mentais, além de se tornarem mais independentes.
Padre Sérgio Lasta, SAC
O autor, colaborador desta revista, é psicólogo, doutor em Educação e padre palotino em Santa Maria (RS)
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