Artigos › 10/09/2024

Jesus coloca-se a caminho

Enquanto leio o texto em Marcos 5,21-43, coloco um olhar demorado sobre Jesus, prestando atenção às suas palavras, aos seus gestos, ao seu modo de viver a missão recebida do Pai.

É  assim que vou participar dos encontros de Jesus, enquanto voltava de Cafarnaum. Ele é procurado por Jairo, chefe da Sinagoga. Sua filha tem uma doença fatal e está impotente. Prostra-se diante de Jesus, o que revela grande respeito e grande confiança. Ele acredita que as mãos e o toque de Jesus transmitem uma força vital de cura, que restaura até alguém que está à beira da morte. Sem dizer uma palavra, Jesus coloca-se a caminho. A compaixão o desinstala, torna-o peregrino e ele está sempre em movimento, rumo às realidades que precisam ser restauradas pelo amor de Deus.

Veja a cena em seus detalhes: o pai, seu semblante, seus sentimentos, suas palavras… Como Jesus olha para ele? O que lhe transmite? Vejo a restauração da esperança em Jairo.

No caminho, surge uma mulher hemorroíssa. A doença a exclui de toda celebração festiva e do convívio social. Leva uma vida solitária, envergonhada, marginalizada, marcada pelo sofrimento físico, moral e espiritual. Cercado por uma multidão, Jesus se detém e faz uma pergunta surpreendente: Quem me tocou? Esse questionamento causa espanto aos discípulos: Você não está vendo a quantidade de gente ao seu redor? No entanto, Jesus sentiu algo diferente: com esse toque, uma força prodigiosa transborda dele. A mulher, com medo de ser punida, aproxima-se de Jesus às escondidas, no meio da multidão, e o toca. Jesus, porém, ressalta que o toca com fé. Isso faz a diferença! Quanta confiança! Jesus chama-a de filha. A mulher, prostrada, escuta a declaração de Jesus que restaura a sua vida e devolve a sua dignidade: Filha, vai em paz…Tua fé te salvou!

Enquanto Jesus prossegue a caminhada, chega a notícia da morte da menina. Como está o coração de Jairo? Ele continua crendo? Ou pensa que não há nada a ser feito, mesmo por Jesus? Como Jesus vê este pai? Como sente o seu sofrimento? Jesus, mais uma vez, toma a iniciativa: Não temas, crê somente. Qual a reação do pai? O que significa crer num momento como esse?

Na casa, o tradicional pranto fúnebre já começou. A morte é dada como certa, foi constatada, não há mais esperança. Jesus chega, vê a situação e diz uma frase ambígua: A menina dorme! Os presentes riem. Não conhecem um poder capaz de vencer a morte e não sabem que o poder de Jesus é superior à morte. No entanto, ele pode restaurar até os aniquilados pela morte. Jesus entra em um ambiente de desesperança (choravam, gritavam) e de total incredulidade (zombavam dele), para restaurá-lo e transformá-lo completamente.

Jesus retira todos do quarto. Não quer dar espetáculo. É discreto. Respeita os sentimentos da família, respeita a menina que jaz ali. Ele toca a menina, toca o impuro e purifica-o pelo toque (o cadáver é impuro). Levanta a menina. Está viva! Veja Jesus, a menina, os pais. O que sentem neste momento? Veja como Jesus está atento aos mínimos detalhes: enquanto todos festejam com alegria, ele lhes diz que a menina tem fome, que lhe deem de comer.

Neste momento, entre na história você também como alguém que fala com o Senhor, que toca nele, que se deixa tocar por ele, para mais amá-lo e servi-lo. A minha vida e a sua podem ser sempre restauradas por Jesus.

 

 

PADRE LINO BAGGIO, SAC

O autor, colaborador desta Revista, é padre palotino em Coronel Vivida (PR)

lino_baggio@terra.com.br

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