Artigos › 11/08/2023

Chamados a viver em família

Cada sociedade humana, em sua rica diversidade cultural, desenvolveu diferentes formas de organização da estrutura familiar básica; tudo, em vista de garantir a vida de seus membros.

 

 

Em todas elas, no entanto, ocupa lugar central o amor, traduzido de múltiplas formas; tais como o cultivo do afeto, do bem-querer, do apoio, do amparo, da proteção, do cuidado, da atenção, do perdão e do respeito mútuo. A partir disso, podemos discernir e refletir sobre os principais valores ou atitudes básicas que concretizam, na vida de cada um de nós, o chamado a ser família ou a viver em família, seja qual for o serviço a que somos chamados a exercer enquanto avós, pais, filhos, netos, irmãos, esposos.

Para bem viver o ser família, no complexo contexto atual, importa, em primeiro lugar, cultivar o senso familiar. Trata-se da sensibilidade de pensar coletivamente uns nos outros, de forma a cuidar da integração e do bem-estar de todos e de cada um no seio familiar.

Em segundo lugar, é fundamental dedicar-se ao cultivo do afeto familiar. O que mantém a vitalidade e a coesão do vínculo familiar entre pessoas livres é o afeto que pode ser traduzido pelo gosto de simplesmente estar juntos, de conversar, de dialogar, de planejar e de decidir juntos. Isso significa doar tempo para que cada membro se sinta, de fato, importante e receba atenção, carinho e proteção.

Em terceiro lugar, não pode faltar o cultivo da disponibilidade. Significa que cada membro é chamado a contribuir, colaborar, participar e responsabilizar-se pela qualidade da vida em família. As tarefas e responsabilidades precisam ser distribuídas. As conquistas compartilhadas. Para isso, importa que se garanta vez e voz para todos os membros, com espaços para troca de ideias e para as necessárias correções mútuas.

Ao contemplar a história da humanidade, podemos afirmar que o núcleo estruturante e afetuoso de uma família é o lugar mais adequado para que cada pessoa que venha a este mundo seja acolhida, cuidada, amada e que aprenda a arte de bem-viver e conviver na vida em sociedade. A família é a mais adequada plataforma de lançamento e de sustentação para a vida humana. Somos totalmente vulneráveis e dependentes de afeto, cuidado e proteção no início (infância) e no fim (velhice) de nossa vida e, sobretudo, somos seres portadores de estrutura afetiva; sedentos de atenção, carinho e amor ao longo de toda a vida.

Ao fazer tais afirmações, não estamos desconsiderando os graves problemas que os membros da família enfrentam: aqueles consequentes da perversa desigualdade social e da omissão do poder público, como a falta de acesso à dignidade cidadã; aqueles resultantes das muitas faces da violência doméstica, seja na relação entre os parceiros ou entre genitores (pais) e descendentes (filhos). Por isso, cabe a cada sociedade proteger e garantir o bom funcionamento da família. E uma das melhores formas, além da concretização de políticas públicas, é suscitar reflexões educativas sobre o sentido da vocação de viver em família.

Que nossas famílias tenham garantido o direito de viver com dignidade e possam ser compreendidas como um projeto desejado por Deus abrindo-se aos seus desígnios.

 

Padre Lino Baggio, SAC

O autor, colaborador desta Revista,
é padre palotino em Coronel Vivida (PR)
lino_baggio@terra.com.br

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