A resposta PODE ESTAR NA NOSSA HUMANIDADE A missão de proteger as escolas é de todos nós
Recebi uma mensagem inusitada em uma das minhas redes sociais. Era um aluno do terceiro ano do ensino médio de uma escola em que dou aula na zona sul de Porto Alegre (RS).
Na mensagem, este aluno me pergunta se seria possível alterar o prazo de entrega de uma produção textual. O motivo? Na data marcada para a entrega, os alunos estavam se organizando para não ir à escola. Por receio. Por medo. Estavam aflitos com as notícias envolvendo ataques a escolas.
Quer dizer, então, que a escola já não é mais um lugar seguro? Longe disso. A escola é o principal ambiente social do jovem. É nela que se aprende. Não estou falando apenas das fórmulas de física ou das regras gramaticais. Estou falando do tanto que se aprende a conviver em sociedade. E a sociedade é recheada de pessoas diferentes, com gostos diferentes, com crenças diferentes, que precisam ser ouvidas, acolhidas, compreendidas. Isso significa dizer que, também na escola, aprendemos a lidar com o nosso próprio posicionamento e com as nossas próprias frustrações.
Entretanto, o que se vê, hoje, é uma onda de terror que ronda o espaço educacional. É cada vez mais comum vermos episódios de violência nas escolas nos noticiários. E dos mais diversos tipos. Há quem deboche do outro, há quem agrida fisicamente o outro e há, até, quem chegue a casos mais extremos do que isso, atentando contra vidas inocentes. Tudo é sintomático. Se temos dificuldade em entender as nossas próprias emoções, como conseguiremos entender as emoções do próximo? Se temos dificuldade em entender nossas próprias frustrações, como conseguiremos entender as frustrações do próximo? Essas reflexões servem tanto para quem sofre quanto para quem pratica a violência. Onde foi parar a nossa humanidade? Onde está a nossa capacidade de convívio? Há de se reconhecer para poder reconhecer o outro.
A situação está posta: querem corromper o espaço escolar. A quem interessa essa corrupção? Eu não tenho a resposta. Mas, se a pergunta for “a quem interessa proteger este importante espaço de aprendizado e convivência, que é a escola?” aí, sim, tenho a resposta: interessa a todos nós.
É missão nossa, enquanto comunidade, entender que a escola deve ser um lugar seguro para que possamos nos desenvolver por completo. Para isso, é importante reconhecer o papel de cada um neste processo. Educadores, alunos, famílias. Que saibamos lidar com as frustrações, que possamos ser menos excludentes, que possamos ser mais carinhosos e compreensivos, que possamos ser mais atentos às necessidades do outro, que sejamos mais receptivos ao que vem pelo nosso bem, que saibamos viver em grupo, que saibamos respeitar a singularidade de cada um. Tudo isso faz parte de um processo que resgata a escola como um ambiente feliz e evolucional; sem medo, sem hostilidade, sem este terror.
Não quero sintetizar um problema tão complexo quanto à violência nas escolas a uma tentativa de reparo apenas no âmbito emocional, mas sinto que é missão minha enquanto comunicador e enquanto educador dar luz a isso. Não podemos apagar a nossa humanidade. E ser humano é viver em conjunto, estendendo a mão e entendendo que quem está ao meu lado é único e precisa ter sua própria autonomia. Sinto que dessa forma podemos – ao menos tentar – atacar a origem de diversos problemas estruturais no que diz respeito a esse relacionamento (muitas vezes conturbado) no espaço escolar. Será possível, assim, acabar com a violência? Quero sonhar com uma resposta positiva. Cabe o propósito, cabe a tentativa.
E se ainda ficou alguma dúvida sobre a conversa que tive com o meu aluno do terceiro ano do ensino médio… é claro que eu ouvi o apelo deles e atendi: prazo de entrega das redações remarcado. Afinal de contas, (quase) tudo pode ser resolvido com uma boa e respeitosa conversa, não é?!
Luiz Filipe Oliveira de Macedo
O autor, colaborador desta Revista, é Graduado em Letras
e mestrando em Gramática e Significação pela UFRGS
@lzfmacedo | lzfmacedo@gmail.com