PAIS TOXICOS
Muito se fala de relacionamentos tóxicos existentes entre casais ou pessoas. Mas falar sobre pais tóxicos não é tão comum, pois esse tema é um tanto quanto complexo e delicado.
Porém, é preciso ter presente que ser pai e mãe sempre será um desafio, sobretudo nos tempos atuais. Por isso, neste artigo trago algumas ideias do que sejam pais tóxicos, tomando todo cuidado para não condenar ninguém e nem fazer algum tipo de psicodiagnóstico precipitado. Não se pode precipitar porque as relações humanas em geral e, nesse caso, pais e filhos precisam ser melhor observadas para não incorrerem em erros, muitas vezes graves.
Mas vamos lá: o que seriam pais tóxicos? Quando nasce uma criança os pais procuram dar tudo o que estiver ao alcance destes. Quando ainda bebê isso se faz necessário porque a criança precisa que suas necessidades sejam atendidas pelos pais. A questão é que muitas vezes, tal atitude tende a se prolongar para outras fases da vida do(a) filho(a) chegando até a adolescência. Com isso, os pais ultrapassam os limites e continuam dando tudo o que o filho ou filha precisar. Ou seja, não colocam limites e, mesmo assim, acreditam estar ajudando ao chegarem ao extremo do desleixo ou da superproteção.
Pais tóxicos imaginam que ajudam e protegem seus filhos com seus exageros protecionistas, mas isso poderá causar efeito contrário. Logicamente, que as intenções são as melhores para a educação dos filhos. Porém, estes exageros poderão causar algum dano emocional à criança que poderá ser um adulto instável e com dificuldades para enfrentar a vida real e seus desafios, como, por exemplo, distinguir o certo do errado. Entretanto, existem algumas características marcantes de pais tóxicos que segundo a revista Psicanálise Clínica seriam as seguintes:
Pais super protetores. Vivem pelos filhos, os vigiam e resolvem problemas que os filhos poderiam resolver. São problemas simples do cotidiano que as crianças poderiam facilmente solucionar, mas que os pais se “metem” e resolvem. Isso tira a possibilidade de fazer alguma experiência da vida real, não os preparando para enfrentar a vida.
Pais “babões”. São exagerados na manifestação de afetos, tendem a ser muito permissivos e acreditam que farão as crianças felizes. O excesso de liberdade poderá desenvolver indivíduos egoístas e individualistas.
Pais competitivos. Colocam seus filhos para realizar os sonhos que eles – pais – não realizaram. São pais que tendem a ser autoritários, exigindo sempre o melhor da criança e nem perguntam sobre as vontades dos filhos.
Pais manipuladores. Oscilam entre a chantagem emocional e a agressão, “enjaulam” seus filhos nas próprias emoções, chegando até mesmo a mentir para eles a fim de ter algo em troca.
Tais características poderão ser de ambos os pais em relação aos filhos e/ou um ou outro. Assim como elas tenderão a prevalecer uma ou outra, mas sempre trarão consequências para as crianças, como se a sombra dos pais continuasse sobre as crianças até a fase adulta. Conforme a revista já citada as consequências seriam as seguintes:
Insegurança. As crianças sentem medo dos pais, inseguras frente ao mundo real com dificuldade para agir diante de certas situações.
Egoísmo. Podem se achar o centro de tudo devido ao excesso de permissão dos pais ou dividir coisas.
Ansiedade. Antecipação de perigos que nem existem e dessa forma tendem a exagerar situações que não seriam tão ansiogênicas.
Estresse. Crianças explosivas que poderão apresentar problemas cardíacos ou outros problemas de saúde decorrentes desse mal.
Amadurecimento. Terão problemas no amadurecimento emocional e dificuldade em aceitar frustrações, pois tudo deverá ser do seu jeito.
Entretanto, nada disso significa que não possa ser resolvido de forma satisfatória. É necessário que os pais se deem conta de como se relacionam com seus filhos; se é de forma equilibrada ou não. Muitas vezes deveriam procurar ajuda profissional para si mesmos e para os filhos ou, em muitos casos, uma psicoterapia de família.
É preciso diminuir a interferência dos pais na educação dos filhos quando esta interferência é exagerada e encontrar um equilíbrio. Reconhecer a toxicidade para estabelecer limites na relação pais/filhos, faz-se necessário. Afinal, os filhos devem ser mais independentes. Mesmo sabendo que não é fácil reconhecer a toxidade, as atitudes das crianças irão mostrar isso de alguma maneira. É importante manter um distanciamento saudável para que as crianças cresçam e se desenvolvam com certa
independência e tranquilidade.
Padre Sérgio Lasta, SAC
O autor, colaborador desta revista, é psicólogo, doutor
em Educação e padre palotino em Santa Maria (RS)
sergiolasta@gmail.com