Saiba mais sobre a Solenidade da Epifania do Senhor
A palavra epifania significa “manifestação”, “revelação a partir de algo inesperado”, mas tem também significados correlatos como uma “percepção intuitiva”.
Dentro do cristianismo é a festa da revelação, da manifestação do que é divino e que, no nosso caso específico, é exatamente a revelação de Deus em Jesus de Nazaré. Na Solenidade da Epifania do Senhor recordamos, pois, a manifestação de Jesus como Rei e Senhor de todos os povos representados nas figuras dos magos. Normalmente, essa festa é celebrada no dia 06 de janeiro; entretanto, no Oriente, é também a festa do Natal do Senhor.
Magos do Oriente
O texto que norteia a celebração é o de Mt 2,1-12 que narra a vinda de magos do Oriente para adorar Jesus em Belém e que, no meio do percurso, encontram o rei Herodes. Na pessoa dos magos – novo povo de Deus que provêm além das fronteiras territoriais e geográficas de Israel – a Igreja recorda o chamado de todos os povos, judeu ou gentio, à fé em Jesus Cristo: o Rei dos reis. Não é coincidência, então, que o mesmo Evangelho de Mateus se conclua (Mt 28,18-20) com a narrativa da missão que Jesus pede aos seus discípulos: evangelizar todas as nações. O Evangelho de Mateus é, pois,
o Evangelho da Boa Nova de Jesus a todas as gentes e essa sua perspectiva já está presente desde o início da narrativa.
Toda a liturgia do dia da Epifania do Senhor está permeada pelo sentido universal da obra de Cristo. Todavia, essa liturgia não é composta de um universalismo abstrato, mas sim de uma festa da universalidade da salvação que está inserida numa pessoa e localidade bem concreta: Jesus de Nazaré, o Menino de Belém. Mesmo não sendo a menor das cidades de Judá (Mt 2,6), Belém não passa de um povoado que os magos sequer encontram no mapa. A salvação não necessariamente passa por aquilo que é grandioso, ao contrário, Deus muitas vezes se serve do simples, do humilde, do insignificante. Mas Deus é capaz de fazer algo grande daquele que é pequeno.
Manifestação do Senhor
Dentro dessa perspectiva litúrgica, pode nos ajudar a aprofundar no mistério da Manifestação de Jesus ao mundo todo e a todas as pessoas, as palavras de São Leão Magno. O Santo Padre Leão Magno pronuncia estas palavras na metade do século V, exatamente em um sermão na celebração da Epifania do Senhor. Diz ele: Tendo a misericordiosa Providência de Deus decidido vir nos últimos tempos em socorro do mundo perdido, determinou salvar todos os povos em Cristo. Esses povos formam a incontável descendência outrora prometida ao santo patriarca Abraão; descendência gerada não segundo a carne, mas pela fecundidade da fé, e por isso comparada à multidão das estrelas, para que o pai de todos os povos esperasse uma posteridade celeste e não terrestre. Entrem, pois, todos os povos, entrem na família dos patriarcas, e recebam os filhos da promessa a bênção da descendência de Abraão, à qual renunciaram os filhos segundo a carne. Que todos os povos, representados pelos três Magos, adorem o Criador do universo; e Deus não seja conhecido apenas na Judeia mas no mundo inteiro; a fim de que por toda a parte o seu nome seja grande em Israel (Sl 75,2)
[…]. Animados por esse desejo, amados filhos, deveis empenhar-vos em ser úteis uns aos outros, para que no reino de Deus, aonde se entra graças à integridade da fé e às boas obras, resplandeçais como filhos da luz.
Também as palavras de Gioacchino Ventura, amigo de São Vicente Pallotti, que, a seu pedido, escreveu um texto explicando a profundidade dessa festa que Pallotti celebrava durante oito dias (Oitavário), nos ajudam a nos aprofundarmos nesse mistério de maneira vital do ponto de vista pessoal: Quando as trevas, que envolvem a terra, forem mais profundas e mais fechadas; quanto mais densa for a escuridão que, às pessoas, esconde a miséria do próprio estado e a ignomínia da própria servidão. Então é que vai se ver surgir de repente sobre ti o Senhor. Ergue, pois, do chão teu olhar aflito. E concluímos nós: Porque o Rei dos reis se fez menino para que tu vivas na luz!
Padre Juliano Dutra, SAC
Palotino e professor de História da Igreja na Faculdade Palotina – Fapas, em Santa Maria (RS)
julianodutr@gmail.com