Artigos › 16/06/2022

Corpus Christi

Corpus Christi

 

Muitas pessoas me questionam: como surgiu a Festa de Corpus Christi? Por que acontece em outra data e não na Quinta-feira Santa, dia da instituição da Eucaristia?

 

Conhecer um pouco mais sobre esta festa ajudará a melhor celebrar e a amar Jesus, presença real na Eucaristia.

A ideia de lançar no calendário litúrgico esta festa, originou-se a partir das visões de uma Irmã Agostiniana chamada Juliana de Mont Cornillon, nascida em Liége, na Bélgica.

Ela, desde os 17 anos, começou a ter visões, nas quais Jesus pedia uma festa anual para agradecer o Sacramento da Eucaristia. Aos 38 anos, Irmã Juliana confidenciou esse segredo ao Cônego Tiago Pantaleão, que, 31 anos mais tarde, foi eleito papa e adotou o nome de Urbano IV. Três anos antes de sua morte, o Papa Urbano IV escreve a Bula “Tansiturus”, em 11 de agosto de 1264, instituindo para o mundo a Festa de Corpus Christi, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade.

O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, devido a morte do Papa, logo a seguir, mesmo assim algumas igrejas adotaram a festa, como a diocese de Colônia, na Alemanha.

Corpus Christi tomou seu caráter universal definitivo, 50 anos depois, quando o Papa Clemente   confirmou a bula de Urbano IV nas Constituições Clementinas do Corpus Júris, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial. No século XI, começaram a surgir dúvidas sobre a presença real de Cristo na hóstia consagrada e o povo cristão reagiu multiplicando as formas de devoção e adoração da hóstia. As devoções eram muito centralizadas nas relíquias dos santos. Para atrair a devoção à pessoa de Jesus, a Igreja favoreceu-se desta festa. Assim, os ostensórios com a hóstia consagrada substituíram os relicários e foram apresentados ao povo para adoração considerada como uma “relíquia” de Jesus. Os relicários foram substituídos pelas custódias e ostensórios, que mostravam ao povo a hóstia consagrada.

Foi escolhida a quinta-feira para sempre celebrar o Corpus Christi, porque a Eucaristia foi celebrada pela primeira vez na Quinta-feira Santa, véspera da Sexta-

feira da Paixão. A morte na cruz impede uma festa solene nestas datas.

Em nenhum versículo da Sagrada Escritura, a Eucaristia é apresentada como um mero ‘símbolo’ do corpo de Cristo. Na verdade, nela está presente o próprio Cristo: corpo, sangue, alma e divindade. Essa é a verdadeira doutrina sobre a Eucaristia ensinada por Cristo e pelos apóstolos, até porque se a Eucaristia fosse apenas um “símbolo”, uma “lembrança”, ela não poderia constituir-se num alimento para a vida eterna.

O Papa João Paulo II assim falou sobre a Eucaristia: “Debaixo das aparências do pão e do vinho consagrados, permanece conosco o mesmo Jesus dos Evangelhos, que os discípulos encontraram e seguiram, viram crucificado e ressuscitado, cujas chagas Tomé tocou, prostrando-se em adoração e exclamando: ‘Meu Senhor e Meu Deus!’”.

Há também um trecho belíssimo da exortação apostólica de Bento XVI, chamada “Sacramentum Caritatis”, em que o Santo Papa comenta sobre a Eucaristia: “Sacramento da Caridade, a santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-

nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste sacramento admirável, manifesta-se o amor ‘maior’: o amor que leva a “dar a vida pelos amigos” (Jo 15,13). De fato, Jesus ‘amou-os até ao fim’ (Jo 13,1). Com estas palavras, o evangelista introduz o gesto de infinita humildade que Ele realizou: na vigília da sua morte por nós na cruz, pôs uma toalha à cintura e lavou os pés dos seus discípulos. Do mesmo modo, no sacramento eucarístico, Jesus continua a amar-nos ‘até ao fim, até o dom do seu corpo e do seu sangue. Que enlevo se deve ter se apoderado do coração dos discípulos à vista dos gestos e palavras do Senhor durante aquela Ceia! Que maravilha deve suscitar, também no nosso coração, o mistério eucarístico!”.

Olhar para Jesus no Sacramento do Altar é ter a consciência de que somos amados por Deus e reconhecer os sinais desse amor presentes nos acontecimentos da nossa vida.

 

 

 

O autor, Padre Reginaldo Manzotti, é colaborador desta revista, pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR)

Texto publicado na edição de junho de 2022

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