Artigos › 26/01/2022

Fraternidade e Educação

“Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26).

 

Em 2022, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade (CF), com o tema: “Fraternidade e Educação” e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26).

No início da introdução do Texto-base da CF lê-se que “a Quaresma é um tempo favorável para a conversão do coração”. A CF, realizada pela Igreja no Brasil desde 1964, tem como propósito ser um caminho para que os cristãos vivam a espiritualidade quaresmal com um sentido de transformação pessoal, comunitária e eclesial rumo à solidariedade a um problema concreto do país.

A realidade da educação é o problema concreto e a CF interpela a uma profunda conversão à luz da Palavra Deus. Provoca a uma verdadeira mudança de mentalidade, reorienta para uma revisão, destaca atitudes que buscam um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e a cidadania. O Texto-base “convida a todos a ver a realidade da educação em diversos âmbitos, iluminá-la com a Palavra de Deus, encontrando e redescobrindo meios eficazes que favoreçam processos mais adequados e criativos afim de que ninguém seja excluído de um caminho educativo integral que humanize, promova a vida e estabeleça relações de proximidade, justiça e paz” (n.6).

Na história das CF, este ano é a terceira vez que a Igreja no Brasil trata sobre o tema da educação. Além disso, este ano a reflexão tem por inspiração o Pacto Educativo Global para o mundo, convocado pelo Papa Francisco e conta com as contribuições do Ano da Família, conforme a Encíclica Amoris Laetitia (a “Alegria do Amor”).

O Pacto Educativo Global foi pensado pelo Papa em 2019 e convoca todas as nações para construir o futuro do Planeta, tendo presente a necessidade de investir nos talentos de cada pessoa, “porque toda mudança precisa de um caminho educativo para fazer surgir uma nova solidariedade universal e uma sociedade acolhedora”, afirmou o Papa Francisco, em mensagem para o lançamento do Pacto Educativo (12 de setembro de 2019).

Objetivo geral da CF 2022

O objetivo geral da CF 2022 consiste em promover um diálogo sobre a realidade educativa no Brasil, à luz da fé cristã, sugerindo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.

Objetivos específicos

– Analisar o contexto da educação na cultura atual e seus desafios potencializados pela pandemia.

– Verificar o impacto das políticas públicas na educação.

– Identificar valores e referências da Palavra de Deus e da Tradição cristã em vista de uma educação humanizadora na perspectiva do Reino de Deus.

– Pensar o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo educativo, com a colaboração dos educadores e das instituições de ensino.

– Incentivar propostas educativas que, enraizadas no Evangelho, promovam a dignidade humana, a experiência do transcendente, a cultura do encontro e o cuidado com a casa comum.

– Estimular a organização do serviço pastoral junto a escolas, universidades, centros comunitários e outros espaços educativos, em especial das instituições católicas de ensino.

– Promover uma educação comprometida com novas formas de economia, de política e de progresso verdadeiramente a serviço da vida humana, em especial, dos mais pobres.

Metodologia

Enquanto metodologia, segundo o secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista, a proposta aborda o tema em três partes no Texto-base, a saber: Escutar, Discernir e Agir.

Normalmente, os temas propostos pela Campanha da Fraternidade são trabalhados a partir do método “Ver, Julgar e Agir”. Mas em 2022, o “Ver” será na perspectiva de escutar; o “Julgar” voltará o olhar para o discernimento e o “Agir” seguirá no caminho do propor. “O desejo da equipe executiva e do que foi proposto pelos bispos tem em vista o que o Papa Francisco propõe no Pacto Educativo Global”, esclareceu padre Patriky.

“O ato de escutar é fundamental. Escutar é mais que ouvir. Escutar está na linha da comunicação, ouvir na linha da informação. Escutar supõe proximidade, sem a qual não é possível um verdadeiro encontro. A escuta permite encontrar o gesto e a palavra oportuna que desinstala da sempre e mais tranquila condição de espectador”, explicou Patriky.

O Cartaz

Segundo informações obtidas no site da CNBB, a identidade visual do Cartaz da CF 2022 foi feita pelo leigo Antonio Batista de Souza Júnior, que teve como inspiração o evangelista João 8, 1-11.

No cartaz aparece, diante da mulher, surpreendida em flagrante adultério, e que está prestes a ser apedrejada, Cristo, o Divino Mestre e Educador. Nisso, Cristo apresenta um novo ensinamento que se revela como um verdadeiro ato de esperança ao ser humano. Jesus Cristo educa de maneira pedagógica e integral a partir de uma ação repleta de sabedoria e amor. Interessante que este é o único momento em que o Evangelho mostra Jesus escrevendo. Não se sabe o que Ele escreveu. Sob a luz da espiritualidade quaresmal, o autor do cartaz apresenta uma releitura da cena com uma possível escrita sobre o chão: AMOR E SABEDORIA palavras retiradas do lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31, 26).

As pedras espalhadas pelo chão sintetizam parte do desfecho daquilo que é ensinado por Jesus. “Vai e não peques mais”. Palavras estas que inaugura um novo estilo de vida marcado pela conversão. O cartaz direciona o interlocutor ao Mestre Jesus, o centro da fé. Convertidos pela Palavra e comprometidos com a vida, dom e compromisso, o olhar se dirige a Jesus que é mostrado em perfil, em pé e com disposição corporal curva em direção a mulher posta a juízo. A cabeça de Jesus, emoldurada por um círculo, auréola, é o eixo do cartaz, lugar onde parte a inteligência, a sabedoria e por consequência, a “Palavra de vida eterna” (Jo 6,68).

A disposição da mulher, também curvada no cartaz, se coloca a ouvir, aprender e a percorrer uma nova vida que brota da Cruz. Sua cabeça é aparelhada com os pés da Santa Cruz, esta que aparenta suave como marca d’água ao fundo do cartaz. Duas cores predominam no Cartaz, verde e Laranja. A cor verde a lembrar o que é vivo e a cor laranja a instigar a fidelidade criativa, própria do seguimento. Estas duas cores darão a qualidade visual de todo material da CF, a fim de induzir a lembrança ao tema e ao lema escolhidos para o ano de 2022. Tanto a mulher, quanto Jesus tem-se na área peitoral, o repouso da mão, gesto que reflete a interação pedagógica de quem ensinou e de quem aprendeu.

Sobre o peitoral de Jesus, um pequeno coração em cor vermelha, este, a comprimir o gesto misericordioso e educador refletido nesta arte. Inspirados por Ele, todos são convocados a pensar a integralidade da educação. Ela perpassa todos os aspectos da vida humana. “Com Cristo, aprendamos a falar com sabedoria e ensinar com o amor. Eis o tempo de conversão e compromisso!”.

Carta aos educadores e às famílias

Além do Texto-base da CF, em 2022 os bispos escreveram uma carta aos educadores e às famílias brasileiras. “O Texto-base é fundamental, mas não é um texto que chega às famílias como um texto integral. Nós pensamos que seria oportuno que um grupo de bispos pudesse escrever uma carta aos educadores e às famílias, de modo que possa ser amplamente divulgada. Não precisa ser um documento, mas uma carta aprovada pelo Conselho Permanente. A sugestão tem como pano de fundo a palavra do episcopado para a Quaresma de 2022 sobre a importância da educação”, explicou o arcebispo de Montes Claros (MG) e presidente da Comissão Episcopal para a Cultura e Educação, dom João Justino.

Diante do cenário da educação brasileira, faz-se necessário pensar sobre o papel da família como base educacional. A família tem um papel importante na educação. A família não pode ser substituída pela escola. Tanto a família como a escola cada uma tem seu papel claro e espaço definido e precisam andar juntas pela educação. Porém, o que se vê é a terceirização da educação. A família passando para a escola o papel de educar.

Também é muito importante chamar a atenção para a educação existente que é uma educação bastante técnica, pouca humanizada e uma educação carente de valores perenes. A educação está carente de valores humanitários e éticos que favoreçam os valores cristãos.

Educação no Brasil

Com a pandemia da Covid-19, a educação brasileira foi demasiadamente fragilizada e suas consequências na vida de educandos e educadores ainda estão por vir. O professorado precisa ser reconhecido e mais valorizado. Por isso, a proposta da CF 2022 traz um eixo transversal que perpassa pela integralidade humana, num olhar de cuidado, esperança e fraternidade.

A educação no Brasil, necessariamente, precisa abraçar um conjunto de experiências de vida e processos de aprendizagem com o objetivo de atender as crianças, os jovens e cada pessoa em sua singularidade. A educação não pode se esgotar numa sala de aula. A educação deve garantir o direito primário da família de educar, e também a missão da Igreja de educar e transmitir a fé em consonância com a comunidade escolar. São João Paulo II, em sua mensagem para a Campanha da Fraternidade de 1998, afirmava que se precisa de “uma educação que promova, de um lado, o crescimento e o amadurecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões: material, intelectual, moral, espiritual e religiosa; e por outro, a formação integral para a solidariedade e a cidadania, que combata a chaga do analfabetismo e seja promotora da paz e do bem-estar social”.

Portanto, o olhar e cuidar da educação, segundo São João Paulo II, é sem sombra de dúvida, uma forma de exercer a caridade, servindo, ao mesmo tempo, de instrumento para que o indivíduo seja agente da sua própria formação. E é exatamente isso que o Brasil precisa, ou seja, investir em projeto de educação que promova cada vez mais o ser humano na sua singularidade e integralidade.

Enfim, para a profundar a temática sugiro a leitura do Texto-base da CF 2022.

 

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A realidade da educação é o problema concreto e a CF interpela a uma profunda conversão à luz da Palavra Deus.

“Com Cristo, aprendamos a falar com sabedoria e ensinar com o amor. Eis o tempo de conversão e compromisso!”.

A família não pode ser substituída pela escola. Tanto a família como a escola cada uma tem seu papel claro e espaço definido e precisam andar juntas pela educação.

“A escuta permite encontrar o gesto e a palavra oportuna que desinstala da sempre e mais tranquila condição de espectador”, explicou Patriky.

 

Por Pe. Judinei Vanzeto – Paróquia São roque – Coronel Vivida (PR)

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