Um homem de fé e caridade
Um homem de fé e caridade
Celindo Valentin Bortolan nasceu em 12 de janeiro de 1934, em Vila Raspa, município de Tapera (RS). Teve uma infância sofrida devido ao trabalho braçal e dificuldades para aprender.
De sua infância lembra que a professora o deixava de castigo de joelhos em grãos de milho e tampinha de garrafa. “Tudo pelo simples fato de não saber falar a língua portuguesa e somente o italiano”.
Sua juventude foi marcada pelo trabalho, realizações pessoais e religiosidade. Participava de diversos encontros paroquiais. Aos dezenove anos serviu o Exército em Santana do Livramento (RS). Permaneceu apenas um ano. Seu trabalho era cuidar de cavalos e do rádio comunicador. Devido a questões de saúde não conseguiu cursar especialização em comunicação e nem realizar seu sonho de ser graduado cabo.
Ao retornar continuou sua vida na comunidade. Foi membro da Ação Católica e colaborou na fundação do PDC (Partido Democrático Cristão), como vice-presidente do diretório municipal. Trabalhava com seu pai destocando lavoura com enxada e machado. Certa vez sugeriu ao seu pai, Antonio Bortolan, a compra de um trator Ford Major para facilitar a lida na lavoura.
Celindo recebia muitos convites para passear e rezar com os coordenadores paroquiais. No dia 15 de agosto de 1955, o padre João Hoffman ia celebrar a missa numa comunidade vizinha. Convidou Celindo e seus colegas para protegê-lo, pois havia promessa de que iriam bater no padre. Os amigos foram juntos para salvaguardar a integridade física do padre durante a missa e a festa. “Foi aí que me encantei por uma donzela robusta, Lourdes Guarnieri”.
Celindo e Lourdes
Casaram-se no dia 27 de setembro de 1958. Ele com 24 anos e ela com 20. Após um mês de casados, Celindo teve uma infecção no ouvido que foi necessário furar com agulha. “Aí começou a perda da audição. Hoje só tenho 20% da audição do ouvido direito e com o uso do aparelho ouço 50% possibilitando uma boa comunicação entre os familiares e amigos”.
Recém-casados foram morar num paiol. Ganharam um pote de banha, um fogão a lenha emprestado e uma caçarola para fazer polenta. Não tinham propriedade e foram trabalhar de empregados. Com dificuldades de se manter em Tapera, resolveram se mudar para Vitorino (PR). “Na manhã do dia 28 de junho de 1962 saímos de Tapera em lágrimas. Trouxemos uma imagem de Nossa Senhora de Fátima”, conta emocionado. Chegaram em Vitorino no dia 29 de junho, dia de São Pedro e São Paulo, com duas filhas: Ivaine e Vanir. Compraram cinco alqueires de terra com as economias trazidas do Rio Grande do Sul.
Em Vitorino
No interior de Vitorino colaboraram na fundação da comunidade São Donato. O casal trabalhou duro para sustentar a família. Ela ajudava o marido na roça, cuidava os filhos e costurava para as vizinhas. Na nova residência nasceram os filhos: Ivete, Vânia, Milton, Vanise, Mariza e Viviane. Atualmente, todos casados e totalizam dezenove netos e cinco bisnetos.
Celindo e Lourde
s cultivaram um lar abençoado por Deus. “Quando Lourdes ia dormir à noite, pedia a Deus que seus filhos fossem abençoados e que se encaminhassem bem na vida, e graças a Deus todos casaram e vivem bem com suas famílias”. Ele foi ministro auxiliar da comunidade por muitos anos. A festa do Natal ainda é a celebração mais esperada pela família.
Foram os primeiros a trazerem sementes de soja para o município. Também recebeu o prêmio de Produtor Modelo (1980 e 1982).
A nona Lourdes, infelizmente, faleceu em decorrência de um câncer no dia 24 de março de 2019.
Oratório Mariano
Hoje Celindo mora com o filho Milton, a nora Madeleine, e um casal de netos. Devido à surdez não pôde mais ser ministro. Em comunhão com o pároco local, construiu na sua propriedade um Oratório dedicado a Nossa Senhora
Consoladora. Foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 2018. Todo primeiro sábado de cada mês reúne a família e vizinhos para a oração do terço e em dezembro acontece uma missa por ano.
Nono Celindo, como é carinhosamente chamado, durante a pandemia da Covid-19, aos 87 anos, doou 1200 Bíblias e duas mil cestas básicas para os pobres. Tendo por objetivo incentivar a fé e a caridade. Um de seus passatempos é a leitura de jornais e revistas. Com seu filho Milton plantaram cerca de 60 mil mudas de árvores nativas na intenção de cuidar da natureza e zelar as nascentes d’água, numa propriedade de 25 alqueires, sendo 18 de lavoura e 7 de preservação.
Um exemplo a ser seguido em pleno Natal!
O autor, Pe. Judinei Vanzeto, é colaborador desta revista, jornalista e padre palotino em Coronel Vivida(PR)
Texto publicado na edição de dezembro de 2021