Evangelho › 21/11/2017

Evangelho do mês de novembro

05 de Novembro

Solenidade de Todos os Santos

ALEGRAI-VOS E EXULTAI, PORQUE SERÁ GRANDE A VOSSA RECOMPENSA NO CÉU.

Ap 7,2-4.9-14 | Sl 23 | 1Jo 3,1-3 | Mt 5,1-12a

Branco  |  Ofício Solene

 

A solenidade de Todos os Santos nos convida a refletir sobre o duplo horizonte da existência humana, que pode ser abarcado pela expressão “terra” e “céu”. As leituras bíblicas desta festa nos estimulam a olhar fixamente para o céu, mas com os pés fixos em terra firme onde cresce a esperança e se consolida aquela fundamental vocação que recebemos do próprio Deus Criador: “Sede santos, porque eu, Yhwh, vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2; 1Pd 1,16). Fazendo eco a este componente essencial da fé, São Paulo sugere a nós, cristãos, que a vocação à santidade seja um processo que se desenvolva progressivamente “até que alcancemos o pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura e a plenitude de Jesus Cristo” (Ef 4,13).

A segunda leitura de hoje repercute a fé de uma comunidade que chegou ao pleno conhecimento de Cristo e vê nisso um “grande presente de amor” recebido do Pai, porque em Jesus Cristo “desde já somos Filhos de Deus”. O texto exprime a admiração e a alegria desta comunidade por ver se realizando já, aqui na terra, aquela realidade que terá o seu pleno cumprimento no céu, ou quando Jesus se manifestar e nos tornar semelhantes a ele. A comunidade de João é consciente de que, por meio de Jesus Cristo, os dois horizontes, céu e terra, são unidos por uma realidade que podemos chamar de “comunhão dos santos”. Em vista desta realidade, o cristão é uma pessoa que caminha neste mundo sempre de cabeça erguida e olhando para a frente, jamais para trás, com aquele tipo de saudosismo ou ressentimento do passado que impede de viver o presente de maneira livre e responsável.

Na primeira leitura, resplandece de modo ainda mais límpido o motivo pelo qual o cristão é alguém que caminha neste mundo de cabeça erguida e com os olhos voltados para o futuro. O texto proposto pertence à seção do livro do Apocalipse denominada “os sete selos” que, um a um, vão sendo abertos pelo Cristo-Cordeiro. Esta seção tem a finalidade de revelar o plano de Deus na história. Na abertura dos selos vem à luz alguns elementos que estão constantemente presentes na história humana: violência, injustiça, morte (Ap 6,1-17). No entanto, conforme as visões narradas no texto que escutamos hoje, a vitória final pertence ao Senhor ressuscitado. Tal convicção é expressa mediante a magnífica visão celestial da multidão dos que são salvos pelo sangue do Cordeiro, isto é, o sangue que Cristo derramou por nós na cruz. Seja os 144 mil representando as tribos de Israel, seja a imensa multidão de todas as nações, raças, povos e línguas, todos estão lá por causa do testemunho que deram, mas, sobretudo, porque foram lavados no sangue de Cristo, pois a salvação é um dom de Deus, e não um mérito humano. Assim sendo, ser cristão, fazer parte da Igreja una, santa e católica significa abrir-se à comunhão dos santos, “como uma semente que se abre na terra, morrendo, e germina em direção ao alto, ao céu” (Bento XVI). Contemplar a vitória de Cristo e dos seus eleitos significa contemplar a vitória do amor sobre o egoísmo, da vida sobre a morte. E assim chegamos ao verdadeiro significado da literatura apocalíptica, que é fruto de uma profunda fé, uma fé que leva a ler a história humana do ponto de Deus. Uma tal leitura enche de significado o presente e nos leva a amar verdadeiramente a nossa história e o mundo em que vivemos, “mas sem apegos, na liberdade de um peregrino, que ama a terra porque tem o coração no céu” (Bento XVI).

À luz das leituras será mais fácil entender a razão pela qual, no Evangelho, proclamam-se bem-aventurados os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que promovem a justiça e a paz, os puros de coração e os que são perseguidos por causa de Cristo. Todas estas categorias de pessoas são bem-aventuradas, isto é, felizes, não por causa da condição de sofrimento em que vivem no tempo presente, mas porque, com seu comportamento espiritual e moral, foram capazes de ultrapassar a justiça dos escribas e dos fariseus (Mt 5,20) e, principalmente, porque pertencem a Deus e ao seu Reino. Particularmente importante é a primeira bem-aventurança, referente à pobreza em espírito. É importante porque engloba e determina todas as outras. O seu conteúdo, muito mais do que um desapego abstrato e genérico dos bens materiais, preconiza uma atitude concreta e eficaz na busca da justiça e da paz. Os pobres, em Mateus, são felizes porque deles “é o Reino dos Céus”, isto é, porque são protagonistas de uma realidade totalmente nova que tem início na comunidade dos seguidores de Jesus Cristo, cresce no curso da história – ainda que essa seja marcada pela presença do bem e do mal (trigo e joio) – e encontra a sua plena realização na eternidade quando, então, seremos semelhantes a Cristo, o Bem-Aventurado por excelência. Enfim, ser pobre em espírito, ser um servo da justiça, da verdade e da paz significa pertencer à “geração dos que procuram o Senhor” (Salmo); reconhecer que ao Senhor tudo pertence e que, diante dele, a única atitude correta à plena confiança é a de quem pede, e não de quem finge.

Leituras da semana

Seg. Rm 11,29-36 | Sl 68(69),30-31.33-34.36-37 (R/. 14c) | Lc 14,12-14. Ter. Rm 12,5-16a | Sl 130(131),1-3 (R/. Guardai-me,  em paz, junto a vós, ó Senhor!) | Lc 14,15-24. Qua. Rm 13,8-10 | Sl 111(112), 1-2.4-5.9 (R/. cf. 5a ) | Lc 14,25-33. Qui. Ez 47,1-2.8-9.12 ou 1Cor 3,9c-11.16-17 | Sl 45(46),2-3.5-6.8-9

(R/. 5) | Jo 2,13-22. Sex. Rm 15,14-21 | Sl 97(98),1-4 (R/. cf. 2b) | Lc 16,1-8. Sáb. Rm 16,3-9.16.22-27 | Sl 144(145),2-5.10-11 (R/. cf. 1b) | Lc 16,9-15.

 

 

12 de Novembro

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM

O NOIVO ESTÁ CHEGANDO: IDE AO SEU ENCONTRO.

Sb 6,12-16 | Sl 62 | 1Ts 4,13-18 | Mt 25,1-13

Verde | IV Semana do Saltério

No centro das leituras bíblicas deste domingo está o tema da expectativa vigilante, que é o distintivo essencial do cristão. A procura da sabedoria e a prontidão perseverante na construção do reino são atitudes fundamentais que caracterizam a vida de quem espera em Deus e está sempre pronto a abrir a porta para que, ao chegar, o Senhor possa entrar e, assim como diz o Apóstolo Paulo, estar sempre com ele.

Na primeira leitura, o tema da expectativa vigilante aparece implicitamente conexo à procura da sabedoria. A sabedoria, diz o autor sapiencial, é um dom de Deus, e aquele que se abre para o diálogo com ela é introduzido na compreensão dos segredos divinos e do destino humano. O texto começa tecendo um belo elogio à sabedoria, chamando-a de resplandecente e inalterável. O emprego de tais adjetivos permite destacar que a sabedoria não é algo de misterioso e inacessível, ao contrário, ela facilmente se deixa contemplar por aqueles que a amam, e se deixa encontrar por aqueles que a procuram. Tal é a intimidade do sábio poeta com a sabedoria divina que ele a apresenta como uma bela jovem que se compraz em ser desejada e, por sê-la, antecipa e se entrega ao conhecimento de quem a deseja. Outra imagem bastante expressiva é sugerida pela menção à sabedoria sentada à porta de quem por ela madruga. Isto significa que a sabedoria se faz encontrar nos lugares mais comuns e nas circunstâncias mais simples do nosso quotidiano. Ademais, acordar cedo e tardar o repouso é a típica atitude de quem quer vencer na vida, da pessoa atenta que estará sempre pronta a abraçar as oportunidades que a vida lhe der. Aquele, ao contrário, que passa o tempo todo distraído, buscando a sabedoria no lugar errado não conseguirá muito mais do que se lamentar pelas oportunidades perdidas.

O Evangelho acrescenta um ulterior motivo ao tema da espera e da vigilância: aquele ao qual somos chamados a ir ao encontro com a lâmpada acesa é o noivo. Tomando emprestado do Antigo Testamento o tema da “metáfora esponsal” (cf. Os 2; Is 54), Mateus propõe um ensinamento em parábola para recordar o dever do cristão no tocante à vigilância. Poucos versículos antes (4,45-51), Mateus tinha identificado o comportamento vigilante com a atitude do servo fiel e prudente, que entende a vida como um dom de Deus, e por isso não tem receio e nem preguiça de se colocar a serviço dos irmãos, pois ele sabe que o dom cresce e se multiplica quando é partilhado, e não quando é enterrado (Mt 14-30), isto é, usufruído exclusivamente em benefício próprio. Com a parábola das dez virgens, Mateus entende responder a um problema bastante sério que estava se passando com os fiéis de sua comunidade: o desânimo em relação a prática da fé. Para melhor compreender esta parábola, convém partir do texto da carta aos Tessalonicenses que constitui a segunda leitura de hoje. Neste texto, que faz parte do manuscrito mais antigo do Novo Testamento, Paulo afronta a questão da segunda vinda de Cristo na parusia, quando então a humanidade irá assistir a vitória final do Cristo Salvador. Os cristãos de Tessalônica pensavam que tal triunfo seria iminente, ainda no curso da primeira geração de cristãos. Naturalmente que uma tal expectativa era estimulante e suscitava grande euforia. Por outro lado, alguns crentes, não contendo a animação face a tão aguardada “vinda gloriosa do Cristo Salvador”, começaram a perder o contato com a realidade a ponto de esquecer de suas responsabilidades mais básicas. Depois de esclarecer diversas dúvidas que colocavam em risco o verdadeiro significado da fé cristã, Paulo recorda, aos tessalonicenses, a maior de todas as responsabilidades de um cristão: caminhar ao encontro do Senhor. Tal realidade é expressa através do termo apántesis, que veicula a ideia de um cortejo, ou de uma procissão que culmina no encontro definitivo com o Kýrios (Senhor). Segundo Paulo, “o encontro com o Senhor é caracterizado, por um lado, pela sua vinda e, por outro, pela procissão dos crentes que, vigilantes, vão ao seu encontro” (A. Pitta). É uma bela imagem que nos faz perceber que a salvação de Deus é um dom, mas que para se tornar realidade é preciso que façamos a nossa parte, não permanecendo parados como uma estátua, mas com perseverança, passo a passo, entre um tropeço e outro, caminharmos ao encontro do Senhor.

A comunidade a qual Mateus se dirige, lá pelos anos oitenta, é composta de pessoas que já tinham “caído na real” em relação à vinda iminente de Cristo, e alguns, desiludidos, começavam a desanimar. É neste contexto que surge a parábola das dez virgens para ajudar a comunidade a se reencontrar com o verdadeiro significado da fé. É interessante notar como o evangelista emprega o mesmo termo apántesis para comunicar às dez virgens o anúncio escatológico: “O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!”. É belo que Mateus tenha se referido ao Messias como noivo/esposo, título que no Antigo Testamento e na tradição judaica era reservado unicamente a Yhwh.

Ao apresentar Cristo como ninfios (noivo), Mateus nos convida a viver a esperança cristã, não como um conjunto de normas morais a serem cumpridas, e nem como um intimismo estéril, mas como uma história de amor correspondido. A certeza de estar andando ao encontro do esposo que vem nos manterá sempre atentos, como que sentinelas a vigiar durante a noite, fiéis à missão que nos foi confiada. Enfim, a parábola das dez virgens nos ensina que, em se tratando da opção pelo Reino, o amanhã pode ser tarde, porque “hoje é o dia da salvação”. Como, então, estamos nos preparando para o encontro com o Senhor? Com a lamparina cheia de óleo ou sem se importar que o óleo esteja se esgotando até que a lâmpada se apague?

Leituras da semana

Seg. Sb 1,1-7 | Sl 138(139),1-10 (R/. 24b) | Lc 17,1-6. Ter. Sb 2,23-3,9 | Sl 33(34), 2-3.16-19 (R/. 2a) | Lc 17,7-10. Qua. Sb 6,1-11 | Sl 81(82),3-4.6-7 (R/. 8a) | Lc 17,11-19. Qui. Sb 7,22-8,1 | Sl 118(119),89-91.130.135.175 (R/. 89a) | Lc 17,20-25. Sex. Sb 13,1-9 | Sl 18a(19a),2-5 (R/. 2a) | Lc 17,26-37. Sáb. Sb 18,14-16; 19,6-9 | Sl 104(105),2-3.36-37.42-43 (R/. 5a) | Lc 18,1-8.

 

19 de Novembro

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM

COMO FOSTE FIEL NA ADMINISTRAÇÃO DE TÃO POUCO, VEM PARTICIPAR DE MINHA ALEGRIA.

Pr 31,10-13.19-20.30-31 | Sl 127 | 1Ts 5,1-6 | Mt 25,14-30

Verde | I Semana do Saltério

As leituras deste domingo retomam a mesma temática do precedente, cujo foco era a espera vigilante da “vinda gloriosa de Cristo Salvador”.

A primeira leitura compõe-se de alguns versículos tirados da página conclusiva do livro dos Provérbios. Este texto sapiencial ressalta a figura feminina e nos introduz no tema da correta atitude a assumir enquanto transcorre os nossos dias e não chegue o momento de prestar contas a Deus dos dons que, confiando na nossa capacidade administrativa, ele nos deu. O poema começa com uma pergunta que mostra o quanto é difícil encontrar a “mulher ideal”: “Uma mulher de valor, quem a encontrará?” Em seguida, explica a razão dessa dificuldade: “O seu preço é muito superior ao das pérolas”. Depois, desmancha-se em elogios a tal mulher, porém não exalta a sua beleza, nem seus aspectos físicos, nem seus sentimentos afetivos. Dela se diz que inspira a confiança e alegra o coração de quem a encontra. Destaca-se especialmente aquilo que ela faz: ao longo de todo o poema, a sua atividade é incansável e abarca todos os âmbitos da vida: ela trabalha com as mãos, com os braços, levanta de madrugada, providencia o alimento aos da sua casa, mantém os rins fortemente cingidos, toma decisões, vê seus negócios prosperarem e, quando fala, profere palavras de sabedoria, úteis para instruir e espalhar a bondade. Que mulher é essa que “os filhos se levantam para felicitá-la e o marido se ergue para elogiá-la?” Como não desejá-la e não amá-la de todo coração? Como não querer viver com ela todos os dias de nossa vida? A este ponto somos convidados a recordar do texto sapiencial do domingo passado em que a sabedoria divina se apresentava personificada numa figura feminina que facilmente se deixa encontrar por quem a procura com sinceridade, e quando a encontra se deixa enamorar por ela, e por causa do amor à sabedoria, fará as mesmas obras desta mulher/sabedoria competente e constantemente empenhada de que fala o poeta de Provérbios. É evidente, pois, que o que se diz desta mulher batalhadora e virtuosa, na qual a sabedoria divina aparece personificada, é aplicável a todo crente que se abre ao diálogo e ao encontro com a sabedoria de Deus, esta sabedoria que, no Novo Testamento, aparece personificada na pessoa de Jesus Cristo, o Verbo Divino.

O Evangelho, à luz do texto sapiencial, nos ajuda a compreender com mais clareza o que significa ser vigilante. A cena apresentada é conhecida como a parábola dos talentos, mas pode muito bem ser denominada a parábola dos “servos fiéis” e do “servo inútil”. Com ela, Mateus acentua o contraste entre as duas possibilidades que o cristão tem perante sua responsabilidade no confronto da realidade que o cerca. O texto começa descrevendo o procedimento de um homem rico que, antes de sair para uma demorada viagem, chamou três dentre seus próprios servos e lhes entregou os seus bens, dando a cada qual segundo a própria capacidade administrativa. Ao retorno do tal investidor, que tinha viajado, cada um dos servos é chamado a prestar contas do investimento que tinham feito. Cada servo, então, apresenta o resultado da sua estratégia administrativa: o que recebeu cinco obteve outros cinco, e o que recebeu dois obteve outros dois. Ambos recebem o mesmo elogio: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre pouco foste fiel, sobre muito te constituirei”, e o mesmo convite: “Entra na alegria do teu Senhor”. Já o servo mau e preguiçoso, por não ter tido a coragem de investir a quantia que lhe foi confiada, recebe uma dura crítica e perde toda a credibilidade diante do seu senhor: “Tirai, portanto, dele o talento e dai ao que tem dez talentos… e lançai o servo inútil nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes”. O senhor ordena, ainda, que se dê ao que tem dez talentos, o talento que estava em mãos do tal servo inoperante, com a justificativa que “a todo aquele que tem será dado e terá de sobra; mas, aquele que não tem, até o que tiver será tirado”. De fato, os dons se multiplicam e se tornam abundantes quando são partilhados e colocados em função do Reino de Deus. Não podemos esquecer o contexto em que Mateus insere esta parábola. Assim como a do domingo passado e a do próximo domingo, ela serve para ilustrar “qual é o servo fiel e prudente que o senhor constituiu sobre o pessoal da sua casa, para lhes dar o alimento no tempo oportuno”. A pergunta que a liturgia de hoje deveria suscitar em cada um de nós é esta: como estamos administrando os dons que Deus nos deu? Estamos empregando a nossa inteligência, as nossas forças, a nossa capacidade empreendedora em função do pessoal da casa, especialmente dos irmãos mais pequeninos, ou estamos preocupados apenas com o nosso pequeno mundo mais ou menos encantado? Enterrar os talentos que Deus nos deu significa tornar a nossa vida uma oportunidade perdida.

Leituras da semana

Seg. 1Mc 1,10-15.41-43.54-57.62-64 | Sl 118(119), 53.61.134.150.155.158 (R/. cf. 88) | Lc 18,35-43. Ter. Zc 2,14-17 | (Sl)Lc 1,46-55 (R/. 49) | Mt 12,46-50. Qua. 2Mc 7,1.20-31 | Sl 16(17),1.5-6.8b.15 (R/. 15b) | Lc 19,11-28. Qui. 1Mc 2,15-29 | Sl 49(50), 1-2.5-6.14-15 (R/. 23b) | Lc 19,41-44. Sex. 1Mc 4,36-37.52-59 | (Sl) 1Cr 29,10-12 (R/. 1Cr 13b) | Lc 19,45-48. Sáb. 1Mc 6,1-13 | Sl 9A(9),2-4.6.16b.19 (R/. cf. 15a) | Lc 20,27-40.

 

 

26 de Novembro

CRISTO, REI DO UNIVERSO

VINDE, BENDITOS DE MEU PAI, RECEBEI COMO HERANÇA O REINO.

Ez 34,11-12.15-17 | Sl 22 | 1Cor 15,20-26.28 | Mt 25,31-43

Branco | Ofício Solene

Neste domingo, a Igreja celebra a solenidade de Cristo Rei, e com esta grande festa, conclui-se o Ano Litúrgico. No centro da liturgia da palavra está o tema da realeza divina. Como veremos nas leituras, a realeza do nosso Deus se manifesta, especialmente, no socorro aos pequeninos, no andar ao encontro da ovelha extraviada, no fazer justiça e paz a todos de modo que, livres e destemidos, possamos rezar com o salmista: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”.

A primeira leitura apresenta um texto tirado do capítulo 34 do livro de Ezequiel que nos oferece um vistoso retrato da situação do povo de Israel durante o exílio babilônico e anuncia a restauração futura que o próprio Deus está para realizar. Este discurso de Ezequiel é, ademais, uma das páginas mais fascinantes sobre a liderança na Bíblia. O texto selecionado para compor a nossa leitura começa com a fórmula do mensageiro (“assim diz o Senhor”) a introduzir um discurso direto colocado nos lábios de Deus: “Eis que eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas e me interessarei por elas”. Esta frase vem na sequência de uma grave acusação contra os líderes de Israel – reis, pastores, governantes, sacerdotes – que tinham recebido a missão de cuidar do rebanho do Senhor, mas que traíram a missão recebida, porque, como diz o Senhor: “Não tratastes (das ovelhas) que eram fracas, não cuidastes das que estavam doentes, não curaste as que estavam feridas; não reconduzistes a transviada; não procurastes a que se tinha perdido; mas a todas tratastes com violência e dureza” (Ez 34,4). Portanto, em vez de promover a paz, a justiça e a fraternidade, conforme a vontade do Bom Pastor, estes pastores perversos, abusando do seu ofício, se preocuparam só com seus interesses pessoais, descuidando das reais necessidades do povo. Eis, pois, que, pela voz do profeta Ezequiel, anuncia-se uma reviravolta: Deus mesmo, o legítimo dono do rebanho, decide cuidar pessoalmente de suas ovelhas. Se os pastores falharam, o bom Pastor não falha: “Procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei aquela que se tinha extraviado, cuidarei da que está ferida e tratarei da que está doente. Vigiarei sobre a que está gorda. A todas apascentarei com justiça” (Ez 34,16). Vemos brilhar, nesse passo, o espírito do verdadeiro líder que realmente se importa com o povo, muito diferente daqueles mercenários que, investidos de autoridade, estão preocupados em apascentar-se a si mesmo.

Este discurso de Ezequiel ressoa bela e harmonicamente no Sl 22 onde, mais uma vez, resplandece a imagem de Deus como o Bom Pastor. Este salmo termina acenando ao banquete eterno na casa do Senhor.

Na segunda leitura, São Paulo, empregando a “linguagem da ressurreição”, proclama a realeza de Jesus Cristo e a necessidade de que ele reine “até que seus inimigos, do qual o maior deles é a morte, estejam debaixo dos seus pés”, isto é, completamente dominados. Enquanto prevalecer a ideia de que “o homem é o lobo do homem”, enquanto o poder de decidir o destino das nações estiver nas mãos de “lobos em pele de cordeiros” e enquanto nós mesmos não superarmos o egoísmo que nos impede de sermos solidários, compassivos e misericordiosos no confronto dos irmãos, sobretudo dos mais “pequeninos”, estaremos impedindo que Cristo entregue a realeza a Deus Pai (v. 24).

O Evangelho de hoje, no entanto, nos ajuda a perceber a urgência de abandonar os hábitos e os pensamentos do mau pastor e revestir-se da bondade e da ternura do Bom Pastor. O texto proposto nos apresenta uma cena que nos permite antever o “juízo universal” que o Filho do Homem pronunciará quando vier na sua glória. A assim chamada parábola do juízo final se encontra na conclusão do ministério de Jesus, portanto, no último episódio antes da narração da Paixão que segue imediatamente o texto evangélico, preparado para a festa de Cristo Rei. A cena do veredito final do Filho do Homem em que são “revelados os pensamentos de muitos corações”

(Lc 2,35) e a missão de cada um, transcorre em dois momentos: o primeiro, na presença dos que foram “servos fiéis e prudentes”, e o segundo na presença dos que foram ‘‘maus pastores”. Ambos os grupos se mostram perplexos pelo fato de que, ao pronunciar o veredito, o Filho do Homem, investido da glória divina e sob a capa de supremo juiz, apresente-se perante todos perfeitamente identificado com os mais pequeninos deste mundo: os que passam fome e sede, os estrangeiros imigrantes, os despidos de dignidade, os enfermos e os prisioneiros, etc. Diante da surpreendente revelação vem a reação de ambos os grupos: “Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro e te acolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo e na prisão e fomos a ti?” E a resposta clara e inquestionável do Rei: “Toda vez que o fizestes a um desses meus irmãos pequeninos, a mim o fizestes”. Então se dirá aos primeiros: “Vinde benditos do meu Pai, recebei em herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo”. Já aqueles que se comportaram como maus pastores, não se preocupando com os pequeninos, mas ocupados somente em apascentarem-se a si mesmos, a sentença do Justo Juiz é esta: “Afastai-vos de mim, ó malditos, para o fogo eterno preparado para o Diabo e para os seus anjos”.

Esta página de Mateus não tem a finalidade de inculcar medo nos fiéis. O evangelista quer levar a sua comunidade e a nós, leitores de hoje, a perceber o que está em jogo na hora em que fazemos as nossas escolhas. O juízo que, segundo Mateus, o Cristo Rei do Universo pronuncia do alto do seu trono, não é uma sentença de condenação, mas apenas um recordar a todos o quanto é desagradável a Deus uma vida pautada pelo egoísmo, pela ganância, pela intolerância, pela violência, pela soberba e pela indiferença, sobretudo no confronto dos “irmãos mais pequeninos”: pobres, desvalidos, injustiçados, etc., porque a “indignidade deles aparece indissoluvelmente esposada à dignidade escatológica do Filho do Homem” (M. Grilli): “Todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeste”. Aqui, o evangelista Mateus, que ao longo deste Ano Litúrgico nos colocou mais próximos de Jesus, nos recorda, mais uma vez, que não basta dizer Senhor, Senhor para entrar no Reino dos Céus. Para entrar nesse Reino é preciso fazer a vontade do Pai que está Céu (Mt 7,21), e a vontade de Deus é que não se perca um só desses pequeninos (Mt 18,14), porque perdê-los é o mesmo que perder Cristo, e, para um cristão, perder Cristo é perder a vida.

Leituras da semana

Seg. Dn 1,1-6.8-20 | (Sl)Dn 3,52-56 (R/.Dn 3,52b) | Lc 21,1-4. Ter. Dn 2,31-45 | (Sl) Dn 3,57-61 (R/. cf. Dn 3,59b) | Lc 21,5-11. Qua. Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28 | (Sl) Dn 3,62-67 (R/. Dn 3,59b) | Lc 21,12-19. Qui. Rm 10,9-18 | Sl 18A(19A), 2-5

(R/. 5a) | Mt 4,18-22.

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