PARA NÃO SER TARDE DEMAIS
Os dias passam e nos dão a impressão de que a velocidade é rápida demais
Talvez seja a sequência ininterrupta de ações e eventos que enchem nossas agendas, talvez por andarmos absortos em ideias e projetos que nos desligam do momento presente; talvez sejam os lamentos, arrependimentos e sofrimentos que nos distraiam do passar das horas. Seja qual for a razão, é comum procrastinar. E, enquanto os dias são iguais e os imaginamos infinitos, não nos damos conta do quão valiosos são. E assim, passam dos dias, os anos, a vida…
Quando, porém, a vida descortina-se finita, descortina-se, também, a ampulheta da vida com suas oportunidades e escolhas que, nem sempre, foram aproveitadas.
No acompanhamento às pessoas em condição de terminalidade iminente é frequente encontrarmos pacientes em situação de tristeza e luto pela vida que poderiam ter vivido; mas, que sem perceber, escapou diluída por escolhas que levaram a caminhos que neste momento lamentam. Pode ser opressor o sentimento que invade essas pessoas, porém pode ser também, um período rico de experiências e emoções e, isso acontece, quando a pessoa decide não perder mais o tempo, haja vista que este se apresenta finito.
É um despertar maravilhoso que leva a pessoa a não adiar as alegrias das coisas simples e cotidianas, mas, também, de aventurar-se naquilo que foi postergado ao longo da vida. As possibilidades estarão atreladas, especialmente, às condições físicas, mas, quando estas são favoráveis, vivências ricas de sentido e felicidade acontecem.
Esta realidade, comum aos pacientes terminais e/ou àqueles que estão recebendo cuidados paliativos, pode ser iluminadora na vida de todos. Afinal, levamos em nós a marca da provisoriedade e a terminalidade é comum a todos os vivos.
O outono se aproxima, as folhas caem e a paisagem sugere mudança e interiorização, criando, assim, cenário e disposições interiores que favorecem a reflexão sobre a vida e como a estamos vivendo.
Em um filme de 2007, intitulado Bucket list, veiculado no Brasil com o título “Nunca é tarde demais”, é apresentada a história de pessoas que diante da terminalidade resolvem listar experiências e situações que querem vivenciar antes que seja tarde demais (daí o trocadilho do título em português). Nos anos seguintes ao lançamento do filme tornou-se frequente encontrar pessoas fazendo a sua própria bucket list.
Se você fizesse uma lista das coisas que quer experimentar, realizar, conhecer ou repetir antes que seja tarde, que itens essenciais estariam nela? É impressionante o resultado das coisas listadas por alunos e pessoas acompanhadas pelo exercício da Tanatologia! O que causa admiração, na maioria das vezes, é que constam na lista situações e desejos perfeitamente realizáveis no cotidiano de quem as listou, como por exemplo: fazer um piquenique, dançar com seu amor, receber amigos numa festa temática, pintar o cabelo, viajar de avião…
As perguntas que ficam são: Por que a felicidade é adiada? Como alguém tão comprometido com a sociedade e a família não se compromete com o próprio autocuidado, bem-estar e felicidade?
A felicidade pode estar (e, certamente, está) ao alcance de uma chamada de celular, da reorganização de horários, e da valorização daquilo que o dinheiro não compra.
Faça sua lista. Cumpra sua lista. Daqui, do meu teclado, ousarei apontar alguns itens recorrentes nas bucket list, nas próximas edições.
Sonia Sirtoli Färber
A autora, colaboradora desta Revista,
é Tanatóloga e doutora em Teologia
clafarber@uol.com.br