Artigos, Blog › 15/07/2017

A Gratidão das Plantas

O agricultor semeia, olha, cuida, calcula e faz seus projetos. Uma prática que perpassa gerações. Muitas pessoas passam a semana no meio das plantas e, quando chega o sábado e o domingo, vão para as lavouras para apreciar o seu desenvolvimento. O fato de observar, permite-lhes momentos iluminados, pois conseguem fixar o olhar nas plantas e perceber suas reações.

Luiz Francisco Zanolla foi criado na roça e aprendeu o ofício de agricultor junto a seus familiares, em Carazinho (RS). Ele relata uma experiência maravilhosa na sua vida. “Admiro muito meu pai e nunca me esqueci de um grande ensinamento que ele me deu. Num dia de chuva, estávamos caminhando na lavoura e vendo o milho soltar os pendões. Na minha cabeça, calculava aquilo que ele poderia render. Inclusive fui falando disso para meu pai. Ele, porém, olhava para mim, mas não me escutava. Perguntei se havia algum problema ou se sentia algum desconforto. Ele me disse: ‘Filho, você está enxergando o milho?’. Respondi que sim. Ele insistiu: ‘Você está vendo como ele está contente? Veja como ele está sorrindo para a chuva e como está feliz. Veja como ela é bem aceita por ele’”.

Meu pai continuou: “Ao acolher a chuva, o milho está agradecendo a Deus. Comece a perceber como ele se comunica do seu jeito simples e observe também que não há nada de extraordinário nisso. É uma comunicação direta. Eu tenho rezado muito nestes momentos espetaculares, e tenho me inspirado com lindas palavras. Para mim, tem sido formidável. Tenho sentido Deus presente em sua linda natureza”.

Luiz relata: “Na minha casa, agora em Cascavel (PR), quando estou na lavoura, fico admirando as plantas e, muitas vezes, me sento à beira do milharal e me detenho por alguns minutos a observar de novo a chuva caindo sobre elas. Lembro-me de um dia especial quando entrei na cozinha e me deparei com a mesa farta para o almoço que minha esposa, dona Edite Parizotto Zanola, preparou, e lhe disse: ‘Meu amor, hoje estou emocionado, feliz e muito inspirado, pois revivi as maravilhas que meu pai me contou há tantos anos. Meu coração exultou ao notar como as plantas sorriam para a chuva. Cada pingo era bem acolhido e tinha sua retribuição, pela gratidão delas. Estou muito feliz’”.

Dona Edite, igualmente emocionada, disse: “Você entrou diferente na nossa casa, com um semblante de paz e tomado de grande alegria. Isto me fez um bem muito grande, pois juntos vamos compreendendo a beleza da obra divina. Quando estou na horta e vejo as hortaliças e verduras, além das flores no jardim e as frutas no pomar, sinto a mesma coisa. Tudo foi criado para que percebamos a beleza em todas as coisas feitas por Deus. Passo preciosos momentos em oração ao contemplar os ciclos daquilo que plantamos. Por isso, vale a pena agradecer a Deus os alimentos que são postos na mesa. Hoje, por exemplo, vemos na cozinha as espigas de milho, a polenta, a fortaia, o queijo, a água, o vinho, a salada de alface e de radiche. Seríamos ingratos a Deus se não percebêssemos sua presença nas coisas criadas por ele. Claro que não podemos endeusar a natureza, mas, através dela, reconhecer a ação divina”.

Edite e Luiz complementam: “Nossa vida se relaciona em contato com a terra. Dessa forma é que educamos nossos filhos, o Neri e a Neuza. Essa lida nos proporciona satisfação e realização. Vemos nos animais, nos peixes, nas plantas, nos insetos, enfim nesta rica natureza, uma diversidade de ocupações. Vemos também tantos biomas (vários ambientes onde a vida acontece), pois cada bichinho encontra o seu cantinho, a sua segurança. Sentimo-nos felizes ao trabalhar a terra e colocar nela as sementes. O milagre da germinação, da brotação, do crescimento e da produção é extraordinário. É impossível não acreditar em Deus. Este tipo de vida cansa muito. A recompensa, porém, é muito maior, pois ao chegar em casa e encontrar os alimentos, frutos do suor, do trabalho e da bênção divina, é reconfortante”.

O casal conclama todos a fazer também esta linda experiência para perceber a maneira como as plantas recebem e acolhem a chuva. O tempo tirado para isso será traduzido em graças e bênçãos divinas. Por fim, cada um pode se permitir um momento privilegiado, e isto não será tempo perdido, para dar importância às relações das obras criadas com o seu Criador, a partir da expressão: a gratidão das plantas.

O autor, colaborador desta Revista,
é padre palotino em Cascavel (PR)

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