Que tal tomar um cafézinho?
O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, atrás apenas da água. É difícil alguém não se render a ele. Seja no inverno ou no verão, no norte ou sul, a bebida tem grande preferência. Que tal conhecermos um pouco do muito que existe por trás de uma xícara de café? Afinal, estamos em outubro, mês que celebra o Dia Internacional do Café.
Contexto histórico
Reconhecido em grande parte do mundo, as primeiras mudas de café chegaram no Brasil por meio de imigrantes que vieram da Guiana Francesa, no começo do século XVIII. As mesmas foram cultivadas para consumo doméstico. Com o passar do tempo, a produção foi expandindo-se e passou a ser realizada em grandes lavouras na região sudeste do País. O eixo Rio – São Paulo abrigou grandes fazendas produtoras de café e os ganhos com a produção eram tamanhos, a ponto de servirem para promover o crescimento econômico daqueles estados. Esta cultura tornou-se tão relevante que, historicamente, constituiu o ‘ciclo do café’, responsável pelo principal produto de exportação até 1930, ano em que a cafeicultura entrou em crise. Para conter tamanha desvalorização no preço, o governo promoveu queima de estoques do café, mas os empresários do setor se direcionaram às atividades industriais, em franco crescimento naquela época.
A evolução: de commoditie a grão especial
Mesmo com o declínio na produção, o cultivo desta cultura continuou em menor escala, mas ainda assim muito expressiva. Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil é o maior produtor mundial e segundo maior consumidor de café. Na atualidade, a monocultura nas grandes fazendas, focada na produção de commoditie (produto padrão para ser exportado) deixa de ser predominante e parte para uma produção em menor escala, focada na geração de grãos diferenciados que estão sendo cultivados também em pequenas propriedades rurais.
A produção em propriedades familiares tem forte apelo social, pois esta cultura traz renda para o núcleo familiar e exige a contratação de trabalhadores externos à mesma. Segundo informações do Ministério da Agricultura, estima-se que cerca de 5 a 10% do consumo de café brasileiro seja de grãos especiais.
A posição do Brasil como maior produtor e exportador mundial leva, cada vez mais, uma bebida de qualidade aos consumidores brasileiros. Para isso, destacam-se iniciativas nos estados de Roraima, Rondônia, Minas Gerais e Paraná, mostrando que a produção de café se descentralizou no século XXI. Nesses locais, existem produtores dedicados à produção de tipos específicos de grãos, o que tem auxiliado no desenvolvimento da economia local.
Para auxiliar os produtores, a Embrapa acompanha os mesmos que vêm ganhando destaque a ponto de conseguirem ‘Indicação Geográfica e Denominação de Origem’. Isto é o chamado terroir, expressão muito utilizada para os vinhos produzidos em alguns lugares do mundo e que conferem tom de exclusividade para estas bebidas. Com estas distinções, agora, também, conferidas ao café, o grão brasileiro vai conquistando o mundo.
Um exemplo de produção feminina no Sul
As mudanças na produção de grãos de café não param. I) de commoditie para exportação à geração de grãos diferenciados e especiais; II) de concentração geográfica no sudeste à diversificação para o norte e sul do País; III) de grandes lavouras conduzidas por homens a iniciativas pioneiras desenvolvidas por mulheres.
Isso tudo, marca a história cafeeira ao longo de mais de um século. Dentre as principais mudanças, encontra-se o protagonismo feminino em uma iniciativa desenvolvida no Paraná. Trata-se do projeto ‘Mulheres do Café’ que integra mais de 250 produtoras de grãos especiais. O produto mudou a vida de pequenas propriedades rurais familiares que têm no café uma importante fonte de renda. Estas mulheres inovaram, deixando de se dedicarem às atividades tradicionais e assim, servindo como fonte de inspiração para tantas outras.
Agora que você já se apropriou da história, vá em busca do seu café preferido, deguste pausadamente, ciente de que está diante de um dos cafés mais conceituados do mundo, e de que por trás desta bebida existem muitas pessoas comprometidas em produzir um grão de excelência. Um orgulho brasileiro.
A autora, colaboradora desta Revista, é professora universitária e Doutora em Economia
giovana.souza@terra.com.br