A IMPORTÂNCIA DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E RECONCILIAÇÃO
No mundo moderno, está presente a cultura do ”divórcio entre a fé e a vida”. Ou seja, vive-se tendências do abandono total das situações relacionadas a Deus.
Ademais, essa cultura pode influenciar os cristãos a perceber que a desvinculação da sua dimensão da fé em Deus é algo normal e que não tem nenhuma implicância no âmbito do bem-estar da vida do sujeito.
No contexto mencionado, sabe-se que o cristão, enquanto criatura, é um sujeito inconstante. Sua desvinculação, isto é, a ausência de relação com Deus representa uma possibilidade de fragmentação e vazio existencial, gerando incertezas e acelerando as inseguranças em relação às promessas de uma vida plena no futuro. Nessa reflexão é preponderante e significativo ressaltar que a verdadeira adesão à autêntica reconciliação implica ou equivale à compreensão da divindade de Deus, questionando se Ele é um Deus que castiga e pune, ou é um Deus amoroso e misericordioso que acolhe.
A partir disso, surge a palavra “penitência”, do grego ‘poiné’, que originalmente significa prejuízo ou ato de pagar por uma infração. Apesar da etimologia, nos dias de hoje, a penitência deve ser compreendida como um processo de reconhecimento das próprias falhas, erros, fragilidades e limitações, culminando no autêntico arrependimento. Reconciliação, do grego καταλλασσω – katallassô, por sua vez, significa efetuar uma mudança, transformar, conciliar, restaurar, recuperar de forma nova e pacífica. Jesus Cristo reconcilia a humanidade sofredora unindo-a a Deus e não separando.
Íntima mudança do coração
E como os cristãos se reconciliam? De acordo com São João Paulo II, o conceito de penitência significa “a íntima mudança do coração sob o influxo da Palavra de Deus e coerência na perspectiva do Reino” (RP, n. 4). O conceito hebraico acerca do “pecado” é riquíssimo e amplo, segundo os especialistas significa: “injustiça“ (rasha), “rebelião” (pesha). Assim sendo, pecado é desobediência, com desejo de ser “deus“ no lugar de Deus, isto gera uma ruptura na comunhão e nas relações interpessoais, afetando a relação com Deus que é a fonte de todo o bem. A desobediência é compreendida como a desconfiança de Deus. Mas, perante tudo isso está presente a graça de Deus que capacita e atrai o cristão a viver a real liberdade concedida por Deus.
Por meio dos profetas, Deus revela sua imensa ternura e misericórdia expressando o amor que tem pelo ser humano. Deus não quer e nem está a exprimir uma vontade de dominação, mas quer elucidar um projeto de redenção e iluminação que apresenta uma atração à adesão do projeto da salvação. Neste aspecto, cabe ao ser humano acolher com o coração aberto essa redenção ou simplesmente rejeitar por incoerência e negligência. Acontece que o Sacramento da Reconciliação tem o objetivo, valor e importância de uma renovação constante e permanente da relação amorosa (ágape) entre Deus e o ser humano. Essa renovação constante pode ser designada “conversão dinâmica” .
Comunhão nas relações
Porque, o cristão se encontra inserido num mundo e universo que é atravessado por diversas realidades que, todavia, ele não escapa e nem é omisso às suas influências. De acordo com o evangelista Lucas, o Salvador e Mestre de Nazaré, Jesus Cristo quis começar o seu anúncio da Boa Nova com a seguinte advertência ou apelo: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15b). Acontece que este episódio é um “principium omnium rerum”, isto é, princípio de partida para a conquista, para a conversão e recepção do amor de Deus. Obviamente este apelo é uma proposta que renova a sua relação com Ele.
No Sacramento da Reconciliação se recebe a graça de Deus, esta permite que haja harmonia e comunhão nas relações divinas e humanas. Estabelece uma relação amigável, amorosa, misericordiosa, curativa e de comunhão permanente e consistente com Deus, por meio das relações entre os cristãos. Portanto, a verdadeira e autêntica Reconciliação tem maior eficácia quando é vivida e ministrada de uma forma personalizada. Onde ela possibilita que aconteça o reconhecimento da culpa que gera o arrependimento em vista do crescimento. E a graça que ampara o cristão e ajuda a ele a se perdoar e a estender a reconciliação com Deus e com os outros.
PADRE ELTON RICARDO MACITELA
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