Quem é verdadeiramente Herói?
Quem é verdadeiramente Herói?
O mundo está repleto de pessoas comuns mergulhadas nas multidões anônimas
Nesse contexto é comum encontrarmos quem queira ser herói; afinal, ser herói traz consigo a ideia de se destacar, de ser famoso e admirado. Mas, nos dias de hoje, o que tornaria alguém um herói?
As primeiras noções do que é ser herói vamos encontrar nos mitos. Esses mitos eram narrativas fantásticas transmitidas oralmente e com o objetivo de explicar realidades não compreendidas na época. Os mitos também serviam para criar um herói, que seria representativo de um povo e serviria para encorajar as pessoas diante de situações difíceis.
Estudando os mitos sobre heróis em várias épocas e culturas, percebe-se que eles têm características em comum. Quem se aprofundou muito nessa temática foi Joseph Campbell (1904-1987). Ele escreveu várias obras sobre o assunto e entre elas podemos destacar: O herói de mil faces, O poder do mito e A jornada do herói.
Segundo esse autor, um herói teria uma jornada de doze etapas. Vejamos quais são:
O mundo comum. A pessoa que vai se tornar um herói é inicialmente um cidadão comum. Os heróis não caem do céu. Eles vão se formando ao longo da vida. Isso ajuda as pessoas a se identificarem com o personagem pois traz a ideia de que qualquer um de nós pode se tornar um herói.
O chamado. Em uma determinada fase da vida o futuro herói se sente intimamente convidado a transformar sua vida em favor dos outros. É um misto de aventura e missão.
O medo. Sair da vida comum e da zona de conforto provoca ansiedade e medo diante do desconhecido. O futuro herói fica se perguntando: será que vale a pena mesmo? É um período de hesitação e dúvidas.
O encorajador. Nessa época da vida é frequente o futuro herói encontrar uma ou mais pessoas que o compreendem e o encorajam. Pode ser um mestre, amigos, parentes ou um sentimento espiritual muito forte.
O começo da jornada. Depois de decidido a ir em frente, o nosso futuro herói (agora já chamado de herói) começa sua jornada, pois entendeu e aceitou a sua missão.
As dificuldades. À medida que o herói avança em sua jornada, ele vai encontrando obstáculos, desafios, enfim, um certo número de problemas que ele não esperava, mas que vão forjando sua personalidade.
Um lugar seguro. O herói é alguém que vai se destacando dos demais. Isso tem aspectos positivos e negativos. Talvez uma das maiores dificuldades encontradas por ele é a solidão. Por isso, é importante que ele encontre um lugar seguro onde existam pessoas que compartilhem os mesmos ideais.
A transformação. Em meio às dificuldades e provações, o herói vai se tornando cada vez mais forte em termos de determinação e de equilíbrio emocional. Algumas vezes o heroísmo pode levar até à morte. Na Grécia Antiga as tragédias eram narradas através da vida e morte de vários heróis. As comédias eram consideradas histórias menos nobres.
A recompensa. Depois de tantas dificuldades, o herói se sente recompensado por ter se tornado uma pessoa de notável valor, de ter encontrado um tesouro ou por ter adquirido grandes habilidades.
A partilha. Embora surja a vontade de ficar usufruindo suas conquistas, o herói sente que tem um dever a cumprir. Esse dever é repartir o que ele conquistou ou aprendeu com os demais.
Ressurgimento. Mesmo que o caminho de volta para casa já seja conhecido, não há tréguas para o herói. O inimigo retorna para enfrentá-lo de novo, mas agora o herói está tão fortalecido que consegue derrotar qualquer inimigo para sempre.
O tesouro chega em casa. Por fim, o herói retorna para sua morada e reparte o que conquistou com os demais. Ele é valorizado, reconhecido e admirado. No entanto, sua jornada nunca tem fim, pois outras missões o aguardam.
NOS DIAS DE HOJE
Trazendo para a realidade atual, como seria a formação de um herói? Há muitos aspectos que permanecem iguais, tais como: as dificuldades, a solidão e a necessidade de um apoio inicial.
Quanto ao chamado, podemos entendê-lo como uma vocação. E todos nós, cristãos, temos uma vocação em comum, que é o chamado à santidade. “Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1Ts 4,7).
Os heróis atuais não precisam ser famosos nem usar capa e espada. Podem ser pessoas aparentemente comuns, mas que descobriram um grande tesouro (Jesus Cristo) e decidem reparti-lo com todos que convivem.
Essa é uma missão para a vida inteira, mas certamente vale a pena assumi-la. Amém!
O autor, Carlos Alberto Veit, é colaborador desta Revista, professor, jornalista e psicólgo clínico em Porto Alegre (RS)
Texto publicado na edição de julho de 2022