Artigos › 26/07/2021

Caminho de cura e mudança de vida

Gostaria de refletir sobre o encontro de Jesus com um paralítico, que chega até ele carregado por quatro homens que o fazem descer pelo telhado até os pés do Senhor, como está narrado no Evangelho de Marcos (Mc 2,1-5).

O paralítico é conduzido pela fé de seus companheiros peregrinos, que têm certeza de que Jesus pode curá-lo. Eles se mobilizam, como padioleiros, para oferecer ao paralítico a oportunidade de reconciliação com Deus e de cura.

Estão dispostos a lançar uma ponte entre ele e Jesus, ainda que, para isso, tenham que atravessar todos os obstáculos e forçar com as próprias mãos uma via de passagem, isto é, um caminho até Jesus.

Eles fazem da doença do paralítico, e talvez da sua culpa, um caminho de cura e uma oportunidade para a mudança de vida. Ele confiou primeiro nos cuidados dos padioleiros, e, em seguida, no olhar de Jesus, que o vê com compaixão. “Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados te são perdoados” (Mc 2,5).

Sabemos que, em decorrência das suas palavras de perdão, Jesus é acusado de blasfemo pelos escribas. Mas Jesus lhes pergunta o que é mais fácil dizer ao paralítico: “Os teus pecados te são perdoados”, ou: “Levanta-te, pega a tua maca e anda?” E Jesus conclui: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados, eu te digo: levanta-te, pega a tua maca e vai para casa! O paralítico se levantou e, à vista de todos, saiu carregando sua maca”.

Refletindo-se sobre esta cena do evangelho, pode-se perceber uma mecha acesa que irradia luz e alegria dos que cumprem sua missão de ser caminho do paralítico a Deus, para Jesus, deixando-se guiar pelo Espírito Santo.

Deveríamos tomar os padioleiros como modelos do nosso chamado à missão. O que foi que motivou aqueles homens para que tomassem tal iniciativa? Que zelo os movia, para carregarem uma pessoa entrevada, não importando a distância nem as dificuldades?

A fé que manifestam, reconhecida por Jesus, deveria ser modelo para a fé do nosso povo, em suas devoções a Deus, aos santos e a Nossa Senhora. Reconhecem seu estado de impotência, de fragilidade, de impossibilidade de carregar e vencer pelas próprias forças os fardos e barreiras da vida. Por isso, peregrinam para os santuários e cumprem promessas.

Ao professar essa impotência e fraqueza buscam força na humildade e na fé. E decorre daí sua eficácia, pois permite que Deus se manifeste dentro da fragilidade humana no mundo.

A gravidade dos problemas atuais, neste contexto de pandemia, em que a vida humana se encontra ameaçada de todos os lados, Deus conta conosco como seus padioleiros dedicados, destemidos, arrojados, mas absolutamente simples e profundamente confiantes como os padioleiros e o paralítico da narrativa evangélica.

Simples como as pombas, que pousam nos telhados com suavidade. Porém prudentes e astutos como as serpentes, como pessoas que abrem brechas e buracos, transcendem fronteiras e pensam o inusitado, a fim de que a humanidade sofrida e abatida encontre repouso e cura em Deus, que é Amor.

O autor, Lino Baggio, é colaborador desta revista e padre palotino em Coronel Vivida (PR)

Texto publicado na edição de julho de 2021

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