EVITE O ISOLAMENTO NA MATURIDADE
Entre as várias indicações para manutenção da saúde física e emocional, em todas as etapas da vida e, em especial na longevidade, uma se refere à importância de as pessoas buscarem grupos e se envolverem em atividades para evitar o isolamento e consequentemente a solidão.
A lógica implícita nessa recomendação, principalmente na última etapa de vida denominada de Adulto Maduro, surge da ideia de que são os vínculos que irão ajudar cada pessoa a refletir e opinar para se sentir integrante de algum projeto ou história.
Segundo alguns estudiosos, a vida nasce de outra vida e a vida só continua quando houver contato e trocas estabelecidas com o outro, a partir de compartilhamentos de energia, de escutas respeitosas, de segredos confiados e muitas outras vinculações necessárias.
Viver exige saber dividir experiências emocionais, sensibilizar-se com as dores, os amores e as alegrias dos que os cercam. As pessoas somente conseguem se desenvolver por meio de uma outra pessoa, porque, para todos, o início da vida impõe uma dependência absoluta que gradativamente vai sendo substituída para uma independência relativa. Entretanto, diferentemente do que se acredita, a independência absoluta nunca é alcançada, e é graças a essa incompletude que o ser humano continua seu desenvolvimento e aprende a valorizar a importância de sentir a necessidade do outro e retribuir doando-se.
Encontrar situações ou ambientes favoráveis para a continuidade da construção humana e obter progressos na integração com o outro exige um esforço constante para perceber o mundo a sua volta e saber que está sendo olhado por esse mesmo mundo.
Olhar e conseguir se enxergar nos olhos dos outros é fundamental para o sentimento de existência e para evitar a solidão.
Na experiência com a clínica psicológica, muitos pacientes se dizem solitários e nutrem sentimentos de que ninguém se interessa por eles, desde os familiares, os amigos, os vizinhos, e por isso acabam se isolando. Quando surgem oportunidades de se integrarem e interagirem em acontecimentos como festas, jantares e outros momentos, evitam comparecer, justificando-se com desculpas vazias. Muitos argumentam que preferem ficar só, que não conseguem aproveitar esses momentos de reuniões, que não sabem o que falar, nem o que vestir e não se identificam com as pessoas. Defendem-se dizendo que se sentem melhores sozinhos.
Sabe-se que a capacidade de ficar só é um fenômeno sofisticado e tem muitos fatores contribuintes. Essa capacidade, a de ficar só sem se sentir solitário, está intimamente relacionada à maturidade emocional, e depende de uma boa organização egóica. Para muitas pessoas a solidão não empobrece suas funções intelectuais e psicológicas, e não se sentem solitárias, porque quando solicitadas conseguem retribuir, se relacionarem e expressar afetos.
Entretanto, quando o isolamento é adotado como uma fuga para se proteger dos próprios sentimentos, sejam eles de inferioridade, de ressentimentos acumulados pelas frustrações, da não aceitação do envelhecimento ou por muitos outros motivos, a solidão surge como uma doença que aos poucos rouba a energia do viver e empobrece o ego pela ausência de prazer e de amor.
A vida é feita de histórias, e cada pessoa deve se perguntar o que está fazendo com as suas histórias. Guardá-las sem deixar aos familiares como foi o seu tempo emocional, suas vivências e seus sentimentos, é roubá-las de algo que não é só seu, porque a história de cada pessoa faz parte da herança transgeracional de uma família.
Isolar-se é não respeitar as pessoas com quem deve conviver, deixando de doar reflexão ou exemplos do que viveu. É desperdiçar os significados encontrados durante a vida, como os momentos de felicidade e as lições aprendidas. É matar as vivências.
E a solidão que o isolamento oportuniza empobrece todos os empreendimentos e os possíveis diálogos que resultariam dos encontros. Deixar para mais tarde os arrependimentos de que poderia ter sido mais feliz não somente pelo estado de prazer e de alegria que não soube aproveitar, é também uma forma de se isolar da vida.
Por outro lado, também existem desperdícios emocionais quando se deixa de reconhecer as superações dos momentos difíceis que ocorreram na vida, dos acontecimentos importantes e tensos pelo quais passou com sangue, suor e lágrimas. Mesmo cobertos de cicatrizes, são sobreviventes melhores e mais fortes do que antes, porque conseguiram alcançar um estado de superação e de felicidade.
Conversar sobre esses sentimentos, sobre a vida e o medo da morte, sobre o que teme no futuro e abrir suas reflexões sobre o sentido de morrer, é entregar-se aos sobressaltos de sentimentos difíceis. Mas essa realidade pode ser um grande aprendizado, porque ela é para todos. Todos um dia morrerão e terão que passar pelo mesmo trajeto de dúvidas e de temores. Então, não é um assunto bizarro, alheio. Faz parte de quem está vivo. O importante é que quando se fala de temores como esse, também se prepara para as possibilidades que o viver pode proporcionar, com seus mais e menos. E sonhar com o futuro impele para a luta e para a continuidade da jornada.
Segundo Ana C. Arantes, “é só pela consciência da morte que nos apressamos em construir esse ser que deveríamos ser para percorrer tal jornada”.