TRISTEZA OU DEPRESSÃO

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Quando uma pessoa, independentemente da idade, nos procura (como profissionais) para falar sobre um determinado estado afetivo de sofrimento, com prejuízos na qualidade de vida, geralmente os sentimentos de tristeza e de depressão são confundidos. Entre as queixas, relatam dores e sintomas comuns aos dois quadros, e fazer a distinção se está enfrentando um episódio de tristeza ou de depressão, exige atentar aos indicadores. Um diagnóstico adequado, muitas vezes difícil, facilita a indicação do tratamento a ser oferecido. Por isso, escutar o paciente e conhecer sua vida é de suma importância.
Deve-se atentar, também, com a confusão em relação ao envelhecimento, considerando que existe o preconceito de que, ao envelhecer, a pessoa se desafeta, isto é, perde o afeto, o prazer pelas coisas que anteriormente apreciava, por isso se torna triste e deprimida.

A tristeza pode fazer parte da depressão e do envelhecimento, mas nem sempre acontece assim. Ela também pode ser o resultado de alguma crise existencial ou um acontecimento que desestabilizou a pessoa afetivamente. No envelhecimento normal, por exemplo, as mudanças de humor acontecem por muitos motivos, mas nem por isso devem, como primeira hipótese, ser consideradas depressão.

Em geral, tais sentimentos de tristeza perduram por algum tempo e podem ter várias causas, entre elas as mudanças que estão ocorrendo na vida da pessoa, o medo de desaprovação pela dependência, a autocensura, o sofrimento pelas perdas de entes queridos, assim como a exigência da construção de novos ideais. Os pacientes que procuram por psicoterapia, apesar de enfrentarem uma luta interna, conseguem elaborar o que os fazem sofrer e tendem a alcançar uma maturidade maior.

Passar pelo processo de mudanças e superar a tristeza envolve o uso de capacidades, como a reparação (apesar da dor, ainda conseguirá amar) e a resiliência (a busca de soluções nos momentos difíceis, para descobrir novas formas de lidar com os acontecimentos). Tais superações oportunizam mais sabedoria, devido à compreensão realista e empática da própria condição humana, que geralmente é temperada pela aceitação da finitude, das subtrações que o tempo acarreta e da morte.

A depressão, por outro lado, é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. A psicologia, a psiquiatria e a psicanálise são unânimes em considerar que a mesma não é uma construção unitária, temporária, mas de causas decorrentes de vários fatores, entre eles os biológicos e/ou psicológicos, sociais e culturais.

No sentido patológico, a depressão (termo que vem do latim depressione significa retirada, ausência de pressão). Os pacientes acometidos apresentam uma significativa baixa do élan (energia) vital, de modo que ficam num estado psíquico e físico de apatia, cansaço, com falta de dinamismo e forte desânimo. Por ser um transtorno de humor, provoca uma sensação persistente de tristeza e/ou perda de prazer e de interesse, afetando o modo como o paciente se comunica afetivamente: nas sessões de psicoterapia pouco fala de si, pensa e se comporta junto aos familiares com apatia e pode levar a uma variedade de problemas emocionais e físicos. Somam-se a esses sintomas, queixas sobre a falta de prazer para as atividades cotidianas; alterações no peso e no sono; fadiga; culpa; dificuldades de concentração e, algumas vezes, falta de vontade de continuar a viver.

Por fazer parte de uma ampla família de doenças, a depressão é denominada de síndrome, e pode apresentar uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos dentro das células nervosas também estão envolvidos. Nesses casos, o tratamento recomendado é o medicamentoso, junto a uma psicoterapia.

Porém, nem toda depressão se originou de fatores endógenos; as causas podem ser psicológicas, decorrentes de situações traumáticas existenciais, cujos problemas foram aumentando por vários sentimentos, como os advindos da identificação com situações de perdas (portanto se sentindo um perdedor), um luto não bem elaborado de pessoas queridas (mas que foram ambivalentemente amadas e odiadas); excessos de culpas sobre o que fez na sua vida; estresses emocionais continuados; baixa autoestima, rejeições e falha de defesas adequadas para administrar as ansiedades, angústias e frustrações, enfrentadas durante as etapas de vida.

Quando tais situações não podem ser pensadas, o paciente enfrenta sintomas como a desafetação (quando declina seus afetos e perde o interesse pelas coisas), a descompensação (com o rompimento do equilíbrio emocional e afetivo) e, nos casos mais graves, a desmentalização (interrupção na capacidade de pensar, esquecimentos e destruição da mente), que podem confluir nas demências senis, como o Mal de Alzheimer.

A depressão é tanto ou mais possível de tratamento do que muitas outras condições clínicas e, na maioria dos casos, o prognóstico é excelente, pois é uma doença que pode ser combatida através de terapias combinadas (medicamentosa e psicológica) e, em muitos casos, apenas com a psicoterapia psicanalítica e/ou comportamental.

Os benefícios alcançados se refletem na melhora gradual da capacidade do paciente para realizar tarefas e do retorno parcial do prazer e interesse em atividades cotidianas, com progresso na vida profissional, social e familiar. Fica evidente, também, uma contínua restauração do interesse e da motivação, reforçando os vínculos familiares e sociais.

O importante é a pessoa saber que não necessita passar por esses sofrimentos sozinha. Um profissional pode ajudar a compreender o que está ocasionando o sofrimento e o que deve ser mudado no dia a dia, o que representa uma grande diferença entre viver ou apenas sobreviver.

Por isso, pense que “assim como ninguém pode fazê-lo se sentir inferior sem o seu consentimento, igualmente, ninguém pode auxiliá-lo sem o seu desejo de se ajudar”.