Artigos › 22/03/2024

Perfume de gardênias

A arte oferece maneiras únicas e sensíveis para abordar as questões tanatológicas como o luto, a doença, a finitude e a morte.

O cinema se ocupa desses temas, frequentemente, seja como argumento principal, seja como reflexão transversal.

Foi num voo que assisti ao filme porto-

riquenho “Perfume de Gardênias” (no original

“3 Gardênias”), talvez pelo ambiente, talvez pela multiplicidade de temas associados à transitoriedade da vida, este filme despertou muitas reflexões. A questão central é o exercício do cuidado aos doentes, especialmente, aos terminais e, a generosidade que deve acompanhar aqueles que, por missão, obrigação ou proximidade desenvolvem este papel.

Cuidar do outro tem um quê de viver o caminho do outro, daquele que recebe o cuidado. As vidas se unem não só na dimensão cuidado/cuidador, mas a rotina passa a ser interdependente. O cuidador tem seus horários atrelados à dinâmica do doente, descansa quando ele está acomodado, toma banho quando, e se, tem o suporte de outras pessoas ou nas madrugadas enquanto o doente não precisa de sua presença. Comer? Ah, comer, ou tomar um café é bem retratado nos primeiros minutos do filme. Come quando e onde dá, na maioria das vezes na mesa junto ao leito e com o olhar grudado no atendido.

Cuidar do outro é tarefa reflexiva que demonstra a necessidade básica de cuidar de si. Assim, é de modo especial, nas duas pontas do viver: ao ingressar e ao despedir-se. Mães puérperas e cuidadoras de doentes têm ações análogas, mesmo que o retorno e a esperança sejam distintos. Mas, as dúvidas, a exaustão e o compromisso são similares.

Terminei de assistir ao filme lembrando a oração “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso, guardador, se a ti me confiou a piedade divina…”.

Cuidadores são extensões da mão de Deus zelando pelos seus!

Sonia Sirtoli Färber

A autora, colaboradora desta Revista, é Tanatóloga e doutora em Teologia

clafarber@uol.com.br

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