Artigos › 21/06/2023

SÃO LUIZ GONZAGA: O jovem que abriu mão do título de marquês para ganhar o de santidade

Imagine a repercussão nas redes sociais se o Brasil vivesse sob um reinado e uma criança de dez anos renunciasse ao título de marquês para seguir uma vida celibatária. Agora pense como seria escandaloso um fato assim no século XV, na época do Renascimento. Foi isso que aconteceu com São Luís Gonzaga, o padroeiro da juventude, celebrado em 21 de junho.

 

Filho primogênito do casal Marta Tana di Sántena e Ferrante Gonzaga, Luís Gonzaga nasceu em 1568 na Corte de Castiglione, Itália, em um contexto de nobreza. A mãe foi a responsável por educá-lo na fé e o pai nutria o desejo de que Luís seguisse a vida militar, ou seja, se tornasse duque, um processo que aconteceria naturalmente pelo sistema da época.

Luís cresceu em um cenário de confrontos e de devassidão, um mundo em que não se era muito propício a quem queria viver a fé cristã, apesar da sua família ser virtuosa.

O pai fez de tudo para que Luís tomasse gosto para defender o feudo do qual ele era príncipe herdeiro. Tanto que aos cinco anos ele sofreu um acidente com pólvora. De temperamento sanguíneo, Luís pegou pólvora escondido de um soldado e disparou um canhão. Neste momento, ele foi jogado no chão por causa do ricochete do canhão, atingindo seu rosto. Por um milagre, não aconteceu nada mais grave.

Outra situação em que mostrava que Luís tinha de tudo para ser influenciado a não ter uma vida de santidade é que ele começou a reproduzir os palavrões que ouvia dos soldados. A mãe e o professor até se assustaram com essa atitude de Luís, que foi repreendido e nunca mais voltou a falar de tal maneira.

A partir disso, tudo se encaminhava para a conversão de Luís. Segundo relatos do diretor espiritual, o padre São Roberto Berlamino, o jovem não chegou a cometer pecado grave. Aos sete anos, pelos próprios escritos de Luís, ele se converteu e aos nove anos se consagrou a Nossa Senhora e decidiu seguir uma vida celibatária. Ele rezava todos os dias. Essa ideia não foi aceita pelo pai, que buscava sempre atrapalhar a vontade do filho.

O bispo de Milão, São Carlos Borromeu, passando pela região, ficou admirado com a sabedoria e inocência de Luís e realizou a Primeira Comunhão.

Depois de várias viagens e dos cargos importantes que Luís recebeu, ele não desistiu da vida religiosa, e assim o pai teve que ceder quando chegou o momento do filho ingressar na Companhia de Jesus, em Roma, e escreveu ao superior dos jesuítas dizendo: “Envio o que mais amo no mundo, um filho no qual toda a família tinha colocado suas esperanças”.

Luís tornou-se um noviço modelo, manteve-se fiel às regras e sempre buscava exercer as tarefas mais humildes. E o pai, antes de falecer, desejou a Confissão e admitiu que a sua conversão se deu por meio das orações do filho.

Naquela época, Roma foi afetada por uma epidemia de febre, os jesuítas abriram um hospital. Em contato com os enfermos, Luís contraiu a doença. Sendo, então, revelado a Luís que ele morreria na Oitava de Corpus Christi, o jovem aos 23 anos teve o acompanhamento do diretor espiritual. Contudo, Luís teve uma melhora no dia 20 de junho, último dia da Oitava de Corpus Christi, fazendo os padres e até seu confessor duvidarem que ele estaria prestes a morrer. Luís faleceu na madrugada do dia 21 de junho de 1591, mesmo antes de se tornar padre, pronunciando o nome de Jesus e olhando para Cruz.

Um padre explica o fato da Igreja ter reconhecido um seminarista como padroeiro dos jovens: “São Luís é modelo para os jovens, porque o jovem é feito para o heroísmo e não para negociar a fé. Ele se manteve firme na fé mesmo em um mundo que o convidava a esquecer Deus. Viveu a humildade, a caridade, a castidade e uma vida espiritual extraordinária, um exemplo para o jovem que quer viver o celibato ou matrimônio”.

Luís Gonzaga foi beatificado 14 anos depois da sua morte, em 1605 pelo Papa Paulo V e na presença da sua mãe; sendo canonizado em 1726 pelo Papa Bento XIII com a proclamação de patrono da juventude. São João Paulo II o nomeou como padroeiro dos pacientes de AIDS. Os restos mortais de São Luís estão na Igreja Santo Inácio, capela do Colégio Romano, onde o diretor espiritual São Roberto Belarmino também foi sepultado, 30 anos após a morte do aluno e filho espiritual.

 

Thiago Aquino de Barros

O autor, colaborador desta Revista, éJornalista, repórter
freelancer da Agência Tatu e agente da Pastoral da
Comunicação da Arquidiocese de Maceió e criador de
conteúdo da página cultural @edemundau

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