Artigos › 08/02/2023

A saudade e a esperança sentimentos importantes de todos nós

As expressões saudade e esperança, além de serem duas palavras muito bonitas e importantes do léxico português, envolvem significados profundos, relacionados a sentimentos que as pessoas utilizam para expressar, principalmente na maturidade, a trajetória vivida.

A palavra saudade, segundo alguns especialistas, tem sua origem e significado em muitas culturas, entre elas a árabe “saudah, “saudá” que significa (sangue pisado e preto dentro do coração). Essa metáfora é perfeita para alguém que carrega no coração uma profunda tristeza, causada pela saudade. Para outros estudiosos, a palavra saudade vem do latim “solitate” e significa “isolamento, solidão”.

A saudade, portanto, é uma expressão de afetos de vivências passadas, mas que se mantém pulsantes no presente. Através de um conjunto de emoções que, devido à distância ou ausência de algo ou alguém, é sentida através de alegrias ou tristezas. Alguns exemplos são acontecimentos que despertaram orgulho pela conquista e vivências cheias de prazer e amor, mas também os momentos de perdas que ainda doem no presente.

A palavra esperança, ao contrário, expressa sentimentos voltados para o futuro. Tem sua raiz

indo-europeia “spe” do latim (pro+spere= prosperar) e significa ficar próspero, ter força e poder. O sentido envolve desejos e vontade de expandir-se, de obter êxito e levar qualquer projeto adiante, de ampliação de fronteiras afetivas e de novos conhecimentos, enfim de situações ligadas à prosperidade, à felicidade e à vida.

Esses dois sentimentos, a saudade e a esperança, são extremamente importantes no mundo psicológico de todos nós. Indicam para os profissionais como as pessoas, principalmente na segunda etapa da vida, se estão vivendo o presente, ou apenas de passado, se estão visualizando o futuro, com sonhos e desejos para novas oportunidades, ou não lutam porque o seu tempo acabou.

Experiência clínica

Na experiência com a clínica psicológica, percebe-se que as pessoas na maioria do tempo relatam sobre o que viveram, o que perderam e do que sentem falta. Como uma defesa para não esquecer o passado, ao recordarem tentam manter presente suas histórias. A saudade, nesses casos, representa um consolo na ausência dos entes queridos e solidão. Como diz o provérbio: “quem tem lembranças não está sozinho”.

Entretanto, embora a saudade conforte, o profissional deve estar atento para ajudar o paciente na elaboração dos sentimentos passados e das mudanças difíceis de enfrentar, como a dos filhos que cresceram, das rotinas familiares que encerraram, enfim das situações que são impossíveis de retornarem. Ficar no passado inibe viver o presente e planejar o futuro. A saudade de muitos entes queridos dói, mas a solidão deixa apenas o vazio.

A psicoterapia, geralmente adquire uma função vitalizante, quando ajuda o paciente a sair do passado e voltar-se para o futuro, através da esperança. Ao ter esperança, será possível visualizar uma maior longevidade, com a confiança do que poderá fazer acontecer. Descobrir os desejos, mesmo que utópicos ou difíceis de serem alcançados, é o começo para construir a esperança.

Ter esperança é acompanhar com fé e presença afetiva o desenvolvimento da família, dos filhos, dos netos, bisnetos e se interessar com os acontecimentos sociais e do mundo que está mudando rapidamente. Envolve buscar projetos, aceitar convites, descobrir alguma coisa que interesse, visualizando os dias que estão por vir.

Continuar sonhando

A história de um senhor de 68 anos que veio do interior buscar psicoterapia é um bom exemplo. Ele foi diagnosticado com câncer e, embora o tratamento tenha encerrado, temia uma recaída e a morte. Aposentado precocemente, abandonou uma promissora carreira política. Sem perspectivas de trabalho, estava profundamente triste e depressivo. Chegou ao consultório muito resistente, com saudade do seu tempo passado que era de viagens, jantares e reuniões.

Iniciou-se a psicoterapia e, aos poucos, foi mudando seu relato daquilo que fez ou deixou de fazer, para o que gostaria de se envolver. Certo dia, ele confessou que um dos seus desejos sempre fora cantar num coral. Encorajado, timidamente ele iniciou um envolvimento com o coral da sua Igreja. Fez novos amigos, viajou para apresentações de músicas italianas e utilizou seus conhecimentos políticos para alavancar recursos para o coral.      Sua saúde física e emocional estava protegida. Mostrava-se esperançoso de um futuro promissor e deixou de prender-se ao passado, sentia-se saudável e confiante, sem os medos de recaída da doença. Enfim, descobriu novas fontes de prazer e do porque valia a pena viver.

Como refere John Barrymore: “Uma pessoa não é velha até que os lamentos ocupem o lugar dos sonhos”.

Helena Finimundi Balbinotti

A autora, colaboradora desta Revista, é Psicóloga
clínica, psicogerontóloga em Porto Alegre (RS)
 balb@terra.com.br

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