Bicentenário da ordenação presbiteral de São Vicente Pallotti
No dia 16 de maio de 2018, celebramos o bicentenário da ordenação presbiteral de São Vicente Pallotti, fundador da União do Apostolado Católico (UAC).
Queremos recordar esta data em que nosso santo recebeu, na Basílica de São João do Latrão, em Roma, o dom do sacerdócio, no grau de presbítero. Este acontecimento oferece uma ocasião para refletir a maneira como Pallotti vivenciou esse ministério e que pode enriquecer a nossa vida espiritual.
Ele viveu o seu ministério sacerdotal em Roma, uma experiência construída sob as pegadas de Jesus Cristo, e suas atividades constituem a nossa herança espiritual. Também é fonte de inspiração para o nosso aprofundamento e renovação do verdadeiro espírito evangélico do sacerdócio. Na primeira metade do século XVIII, reforçou-se o modelo de sacerdote bom pastor, disposto a guiar e a defender as ovelhas desgarradas, num tempo em que as práticas religiosas estavam enfraquecidas.
No seu período de formação sacerdotal, podemos identificar alguns fatores que criaram a sua identidade sacerdotal. Primeiramente, deve-se dizer que ele não frequentou a vida do seminário, mas, durante os seus estudos, permaneceu na casa dos seus familiares. Quanto à sua formação humana e religiosa, teve a influência de várias pessoas, a saber: os seus pais, o confessor Bernardino Fazzini, os mestres dos Escolápios, os professores do Colégio Romano, os diretores dos exercícios espirituais anuais e dos retiros. Dois foram os fatores que incidiram muito na formação sacerdotal e no exercício do seu ministério como padre diocesano. O primeiro foi que a sua formação espiritual se desenvolveu por meio de uma intensa e dedicada vida de oração. O segundo fator refere-se à sua admissão às ordens sagradas com o título de patrimônio, ou seja, nos seus primeiros anos de sacerdócio, morou na casa paterna e, como não estava vinculado a nenhum ofício diocesano, ele podia decidir livremente sobre suas escolhas pastorais.
Vicente Pallotti conservou sempre em sua memória o dia extraordinário da ordenação, ocorrida em 16 de maio de 1818, data que ele mesmo menciona com frequência em seus apontamentos espirituais.
A sua preparação ocorreu por meio dos exercícios espirituais. As celebrações litúrgicas destes dias, a Oitava depois da Ascensão, as solenidades de Pentecostes e da Santíssima Trindade, o estimularam a entrar no grande mistério de Deus Uno e Trino.
Em seus apontamentos espirituais, exprimiu os sentimentos do seu coração de forma simples e com propósitos concretos. Antes de tudo, agradeceu a Deus pelo inestimável dom da vocação e meditou sobre seus deveres como sacerdote. Por isso, pediu ao Senhor a graça de não querer honras, de dar bom exemplo de amor a Deus e ao próximo, de ser sóbrio e vigilante, de ter instrução e ciência necessária, de ser um trabalhador incansável, de viver a perfeição evangélica e de se assemelhar, em tudo, a Jesus Cristo.
Vicente Pallotti empenhou-se, desde o início da sua ordenação sacerdotal, em viver profundamente o seu ministério, com renovado vigor evangélico. Ao interiorizar este novo estilo de vida, ele o fez radicalmente, seguindo a Cristo com uma visão ampliada, para melhor servi-Lo em todas as suas atividades. Segundo ele, a missão do padre estava diretamente ligada à caridade e ao cuidado espiritual das pessoas.
Pode-se dizer que quatro foram as obras promovidas por ele, e que até hoje trazem o seu nome: o Oitavário da Epifania (1835), A União do Apostolado Católico (1835), a Pia Casa de Caridade (1838) e a missão de Londres (1843). O ministério sacerdotal se tornou modelo de vida espiritual a todos os sacerdotes.
A sua extraordinária via de santidade, e a sua total dedicação à realização da missão salvífica da Igreja, fizeram com que merecesse o título de “modelo de santidade sacerdotal”.
O ano do bicentenário de ordenação sacerdotal de Vicente Pallotti nos convida a perscrutar os seus ensinamentos em relação ao sacerdócio e também a refletir qual é a sua visão sobre o mesmo. Quando nos aprofundamos em seus escritos, percebemos que sua fecundidade espiritual e eficácia apostólica estão pautadas na visão que tinha acerca do sacerdócio de Jesus Cristo, único e eterno sacerdote.
A dignidade sacerdotal não é dada ao homem como um poder humano, e muito menos pela própria iniciativa da pessoa. Para Pallotti, o sacerdote é um homem de Deus, eleito por Deus para ser a sua imagem viva e transparente no mundo e na Igreja. Portanto, o sacerdote participa da própria missão que o Pai Eterno confiou ao seu Filho Jesus. O ministério ordenado está inserido na comunhão trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
As reflexões sobre o sacerdócio, vivenciadas por Vicente Pallotti, demonstram uma espiritualidade sacerdotal palotina muito profunda e rica de referências bíblicas e teológicas. É uma espiritualidade centrada na imitação de Jesus Cristo e no amor a Deus.
Ao confrontarmos o ensinamento da Igreja e aquele apresentado por Pallotti sobre o ministério e a vida sacerdotal, encontramos tantas semelhanças a ponto de dizer que ambas são de inspiração palotina. Os documentos do Concílio Vaticano II retomam a figura do Bom Pastor, fazendo dele o ponto central da espiritualidade sacerdotal.
A figura do sacerdote que segue Jesus Bom Pastor revela, na descrição de Pallotti, uma fonte de inspiração sempre atual, mesmo que os tempos sejam outros. Os sacerdotes não são meros “atores” que encenam, recitando a parte do Pastor, mas são chamados a apascentar o povo de Deus, com caridade pastoral, que anima a sua vida espiritual e as atividades, como servidores de Cristo e dos irmãos. Nos tempos atuais, o Papa Francisco mostra o seu empenho e pede a todos para que tenham uma atitude de pastor, misturando-se com as ovelhas a ponto de adquirir o seu cheiro.
O ano do bicentenário de ordenação sacerdotal de Vicente Pallotti é graça do Senhor para redescobrirmos a riqueza espiritual do sacerdócio de Jesus Cristo, segundo a visão do nosso Fundador. Nos nossos dias, os sacerdotes se encontram diante de grandes desafios. Procura-se eliminar a presença do sacerdote da vida pública e, às vezes, de atingi-lo na sua identidade mais profunda, obscurecendo a sua dimensão divina. Vicente Pallotti nos ensina que o sacerdote é o representante do Deus vivo e o sinal visível da caridade de Cristo.
Pe. Clesio Facco